O jeitinho brasileiro sempre derrota as gentilezas. Se vê
gente estacionando em vaga de deficientes, só cinco minutos; de cinco minutos
vira dez, vinte e, quando vê, já se passaram duas horas, e o carro do cidadão está
lá na vaga de quem precisa realmente. Aquela vaga é algo importante para quem
precisa de uma cadeira de rodas para se locomover. Tenha consciência disso.
E a falta de gentilezas não param por aí, existem até
pessoas que terminam relacionamentos por mensagem texto, skype, ou qualquer
outro meio que não seja pessoalmente. Falta a coragem de olhar no olho do outro
e falar que tudo terminou, que foi bonito a passagem daquele amor, que foi
válido. Gente que é covarde até no ultimo abraço, das lágrimas que escorrem pelo
rosto cansado. Naquele momento difícil,
porém importante para o corte dos laços que ainda os unem.
E as gentilezas onde ficam? Ficamos percorrendo um mundo
cada vez mais violento e gente passando pelas ruas, sempre tão frenéticas.
Trabalho, almoço, reunião, mandar e-mail, postar a foto, ligar pra esposa,
faculdade, apresentação, escrever a matéria para o jornal. O tempo escorre
entre nossas mãos e ficamos perdidos, perdemos até a direção de nossas vidas. E
não olhamos para o lado: para moça que te dá um sorriso ou acena a cabeça
enquanto atravessa a rua; para a criança e seu olhar de admiração com o seu novo
brinquedo; para a chegada da primavera e das flores que aparecem de leve pelas
avenidas que passamos.
A gente esquece os pequenos detalhes da vida, do pedaço de
bolo que a mãe faz, dos conselhos da Vó, do desenho da criança faz com toda a família, e ela logo diz:
- Olha
mãe, eu desenhei nossa família.
Às vezes, perdemos pequenos capítulos, pequenas perguntas que ficam pairadas no ar. Queremos voltar ao passado para agarrar apenas aquele momento. Sinto muito, o passado não volta. Aproveite o que puder, seja gentil com as pessoas, e pare de olhar para o próprio umbigo. O mundo precisa de pessoas que tenham como lema: gentileza gera gentileza. Quem sabe assim a vida poderia ser muito melhor, pois como disse o profeta: "Amor, palavra que liberta." Ser gentil nunca é demais. Ainda mais em um mundo cada vez mais automático.
Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade em 16/10/2015
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