terça-feira, 17 de novembro de 2015

Somos Legião

     Sei que ultimamente estou com as mãos travadas, escrevendo Renato Russo em tudo  o que é texto. Ele fez parte da minha adolescência, ficava tardes lendo Machado de Assis e procurando a rádio que passava alguma música da Legião. Tempo sem internet, e música em MP3, sem tv a cabo, sem livros digitais. Tempo que só o que nos restava era a rede globo, livros feitos de papel. Tempo de gravar as músicas que passava na rádio, no toca fitas do seu três em um. Tempo dos vinis, tempo de ficar até tarde na rua, jogando pau no ombro e correndo pelas avenidas não calçadas das cidades. Não existiam grades nas casas, nem portões eletrônicos, alarmes e tudo mais, tempo de ser feliz, sem pedir licença.  Pergunte para o seu pai, que ele lhe explicará melhor.

        Esse tempo tenho saudade, porém  mais saudade das músicas que o Renato, Marcelo e o Dado faziam com tanta maestria. Eu sempre preferi o Renato que o Cazuza, ele foi mais romântico, mais visionário, idiossincrático, sentimentalista, com certeza mais a forma única de ser Renato.  Sua voz foi a mais bela e, ao mesmo tempo a mais selvagem. Ele foi o nosso porta-voz, da geração coca-cola.  Ensinou um montão de coisas para aqueles que o seguiam. Hoje, ele ainda nos ensina. Então um dia a voz calou-se, no entanto deixou um legado muito grande, que nos emociona, e nos deixa a flor da pele até hoje.  

    Se você não tem nem ideia de quem seja a Legião Urbana, pergunte para a sua tia roqueira, ou, então, procure na internet, pois encontrará um tanto de assuntos, entrevistas, músicas, vídeos, letras e tudo mais. Só sei que o Renato ensinou-me: "que é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, que, quando o sol bater na janela do seu quarto lembra e vê que o caminho é um só, que a humanidade é desumana, mas ainda temos chance, o sol nasce para todos, que são as pequenas coisas que valem mais, que ter bondade é ter coragem," Ele gritou no auge da sua carreira: "Que país é esse?  Que ainda é cedo, cedo, cedo, que todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo e o mesmo cantou em alto e bom som: que somos tão jovens!"


     O tempo passou, a vida mudou e a geração coca-cola já está quarentona, mas a vida segue sem a legião, e o que ficou foram os livros, as músicas cantadas pelos jovens daquela época, cada um seguiu sua vida, e fomos felizes do nosso jeito. Errando aqui, acertando naquela outra curva, lembrando das coisas que nos foram ensinadas, não pelos pais, mas como um irmão mais velho, não dando broncas, entretanto de uma forma que nos apaixonamos: a forma musical.  
   
     Uma coisa tenho certeza: que sempre seremos a geração coca-cola:  não por querer ser, no entanto por sermos quem fomos um dia. Na verdade, nosso sentimento foi de imortalidade vivendo em um mundo de trilhas musicais, que levamos para as nossas vidas, onde a trilha sonora não existe mais a legião, mas existe algo maior:  nosso sentimento por um mundo com mais amor, onde as pessoas possam viver de forma igualitária. Não nos importando com as diferenças, e, sim, um país onde cada singularidade seja respeitada. Como diria Renato:  “Tenho saudade de tudo que ainda não vi.”

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade em 15/11/2015

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