Nada
mais justo de que uma homenagem. Para ela, é gente é ela sim, minha companheira
de todas as seguidas e extravagantes horas. Às vezes tudo é tão automático, que
não percebemos o quanto somos dependentes da cadeira de rodas. Parecemos alguma
espécie de robôs com quatro rodas, não vivemos sem elas para nos locomover e de
alguma forma, talvez até estranha ela faz parte do nosso corpo sem estar
propriamente no corpo. Eu sei que é complicado explicar, mas cada cadeirante
tem seu jeito peculiar de encarar a cadeira. Alguns com revolta, outros com
aceitação, mas o importante mesmo é tentar ser o mais leve possível, a vida é
tão curta para nos preocuparmos com apenas quatro rodas e duas pernas inertes.
Claro, que vai ter os dias nostálgicos. Aquele momento que você fixa o olhar
nas pernas de alguma pessoa e se lembra o quanto isso era libertador pra você.
Quando podia, sair andando e correndo sem nenhuma preocupação, que cada seu
movimento era tão automático, hoje tudo é tão diferente. Para tentar mover uma
perna você precisa de um imenso esforço cerebral, seus pensamentos terão que
estar induzidos para aquele movimento, até que, ufa! Consegui levantar a perna,
isso quando você ainda tem algum movimento sobrando. Tem horas que você quer
virar adolescente novamente e aquele ar de rebeldia, nostalgia. Você só queria
sair do carro batendo a porta sem preocupação, porém sua realidade é outra e
temos que também alimentar essa realidade com coisas positivas. Vontades ficam
guardadas em algum lugar, esquecida e a vida, ah, a vida meu caro leitor, essa
segue, sem pedir licença. Você tem que sempre se reinventar e a cadeira de
rodas vai estar contigo, onde for. Bom, já se passaram mais de quatro anos que
estou com ela, agora uma diferente, mas o sentido da palavra não se modifica.
Foi com ela que passei muitos perrengues, passei, senti, amei e até me
apaixonei. Subi escadas, desci rampas, até fui carregada com a cadeira e tudo
dois lances de escada e na descida quase levei um tombo, com três pessoas me
segurando. (risos) Reinventei a minha história de um jeito novo, e cada dia
aprendo mais com ela, com as conquistas e mudanças que a vida tem me
proporcionado. Mudanças físicas também acontecem diariamente, e o que as pernas
não se movimentam, superam nos braços por levar 60 quilos por aí, nessas ruas
que não nos ajudam. A cadeira me fez ter um sentido novo na vida, mesmo
andando, as muletas não foram boas companheiras, eu sempre tinha o medo de
cair, essas preocupações, quebrar uma perna. (Risos) E com a cadeira me deu um
sentido novo, mesmo ainda tendo que ter ajuda das pessoas para alguns afazeres,
mas com o tempo tudo vai se ajeitando. Como dizem por aí, sozinho a gente não
vive, precisamos das outras pessoas para poder viver bem. A cadeira de rodas
também se tornou quase uma pessoa, que me leva, que tem o espírito leve, breve
e impulsional. Só quero que a minha vida seja impulsionada por ela e que seja
bonita, doce, que tenha cheiro de chocolate derretido. Os 1500 e poucos
dias foram vivenciados de uma forma inexplicável, principalmente esse último
ano, muitas coisas importantes acontecendo e que os próximos 1.500 dias sejam
tão inesquecíveis quanto esses.
Beijo grande!
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