quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

Entre cabelos e quimioterapia


Bom, quem me acompanha há algum tempo sabe quantos cabelos já tive. Claro, que é o mesmo cabelo, apenas com texturas e comprimentos diferentes.  O importante é poder mudar, poder ter um crescimento não só no cabelo, mas também na  vida. Ano passado, meus cabelos caíram em conseqüência da quimioterapia e com ele aprendi tanta coisa. sim, o simples fato dos cabelos caírem pode haver aprendizado.

Como falei anteriormente eu e meus cabelos tem história , já tive de vários tamanhos, mas antes de começar a quimioterapia eu tinha passado por uma transição capilar do liso para o ondulado com muita paciência e perseverança. Estava começando a gostar deles, quando recebo a notícia que iria fazer quimioterapia. Bom, a vida é assim, cheia de surpresas, não sabemos o que vai acontecer amanhã. Então bora, aproveitar o hoje até a última gota. Veio a quimioterapia e depois de 13 dias começou a cair. Eu sabia que só seria uma fase. Fui daquele grupo que achava que cabelo é de menos, cabelo cresce, o mais importante é a saúde.  Onde eu passava os cabelos caíam, era muito doido, ( Gente, vocês não tem noção de quanto cabelo caia)  Um dia eu fiz um coque e quando acabei de fazer o coque, minha mão estava cheia de cabelo. Sabe aquela fase que você vê nos filmes da vida sobre o câncer. Agora estava acontecendo comigo, mas não me desesperei, não. Foi só cabelo. Nesse mesmo dia eu passava minha mão por eles e caía em tufos. Então, pedi para minha irmã raspar de vez. Foi um alívio, sabe e ao mesmo tempo me ver careca foi estranho, mas eu sabia que era só um tempo. No começo eu usava lenços e muitas amarrações e tal, no final ia careca mesmo. ( risos) As pessoas já te olham quando você usa cadeira de rodas, imagina careca, te olham duplamente. Eu pensava pode olhar, essa sou eu, sem tirar nem pôr, uma louca. Ah, uma coisa muito engraçada que acontecia quando eu estava careca, sempre tive a mania de ter um elástico no pulso pra amarrar o cabelo ou fazer um coque. Na época da carequice, eu simplesmente me esquecia, é de vez em quando eu tirava o elástico do pulso para amarrar o cabelo, quando passava a mão na careca: - Putz, cadê o cabelo? Eu ria por dentro e sozinha, sou de peixes, né gente, avoada por natureza e eu gosto dessa essência, dessas minhas maluquices. 

Enquanto as sobrancelhas e os cílios começaram a cair, sofri mais, claro que não um sofrimento arrastado, só uma dorzinha no coração (risos). Sou apaixonada por cílios e sobrancelhas e achei que fiquei um pouquinho estranha sem eles. E eu não tive paciência em desenhar sobrancelhas e usar cílios postiços, fiquei sem mesmo.

Depois de todo o tratamento, quando o cabelo começou a crescer, e com ele cresce a sensação é que a vida começou a voltar. Querer os nossos cabelos novamente é querer nossa vida de volta. Não é sobre os fios que estão crescendo, e sim sobre auto-estima, é sobre se reconhecer, é sobre quem você realmente é. Já faz oito meses depois da última quimio, e eles crescem fortes, de uma textura um pouco diferente do que era antigamente. ( quando escrevo antigamente me acho muito experiente haha)  De todo jeito é uma forma de renascimento, talvez me vê de uma outra maneira. Depois de me ver totalmente careca, não me dá tristeza, no entanto foi uma estranheza, que eu não estava acostumada, agora com cabelos estou tentando me reconhecer de outra maneira, um olhar diferente sobre eu mesma. Afinal, talvez eu não seja mais aquela de antes de ficar careca, talvez não, tenho certeza.

Beijo grande!

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