sexta-feira, 24 de junho de 2016

Amor anti-monotonia

       


Se um dia eu te perguntasse: qual seria a sua comida predileta? Com certeza você me responderia, por exemplo, que seria pizza, até salivaria, sentiria o cheiro, essa sensação boa que a comida nos provoca. Degustaria sua comida favorita com vontade. No entanto, se eu disser que você terá que comer essa comida pelo resto da sua vida – manhã, tarde e noite.  Não poderá experimentar novos sabores, cheiros e sensações.

A mesma comida poderá ser preparada por diferentes lugares e pessoas, mesmo variando o sabor. Você não aguentaria comer pizza a sua vida inteira. Isso acontece com o amor, à gente quer se apaixonar de verdade, só que ninguém quer qualquer amor. Amor de repetição ninguém aguenta, simples, esses estão fora de questão. A gente idealiza pessoas, momentos e vivências que quase sempre acabam não acontecendo. Então quanto menos expectativas melhor. Parece clichê, só que é a pura verdade.

Almejamos sim, essa loucura que vem e machuca, sorri por dentro milhares de vezes ao dia, e nos derruba em lágrimas. Queremos a emoção de viver, amar e apaixonar-se constantemente. A imperfeição do amor que nos seduz, esse sentimento difícil de traduzir em palavras. Somente sentindo para ter o poder de decifrá-lo de uma forma insuportavelmente apaixonante.

Queremos um amor antimonotonia, aquele que quebre a rotina, nos tire da zona de conforto, que nos possibilite viver momentos intraduzíveis. Queremos alguém que nos tire o tédio – que transforme o tédio em melodia.

Queremos um amor pra mudar o mundo e tudo que nos rodeia, o amor tem esse poder. Em um mundo cada vez mais plastificado, onde os sentimentos estão cada dia menos presente, precisamos sim, amar alguém e não existe melhor forma de ser démodé. Eu quero ser démodé, ouvir “I Will always Love you” (Eu sempre amarei você) no rádio do carro enquanto o caminho certo não chega. E que atire a primeira pedra quem nunca se permitiu se apaixonar por esse caminho tortuoso chamado vida. Eu quero sim, um amor, porém que seja anti-monotonia.

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.



sexta-feira, 17 de junho de 2016

O homem certo




Nós, mulheres, nascemos com um dispositivo que, quando encontrarmos o homem certo, tudo na nossa vida vai mudar. Vamos nos sentir mais felizes e realizadas no trabalho e na vida. Só que alguém se esqueceu de avisar que esse cara certo - bom minha amiga - vai ser revelado no final do texto. E eu me arrisco a escrever que o cara errado é muito mais legal. Legal não é exatamente a palavra certa para defini-lo. Só sei que você irá se divertir muito mais com esse homem.

O homem certo pode gostar da casa limpa, com um brilho absoluto sem nenhum pó, se você comer biscoito de chocolate e deixar farelo pela casa inteira, vai te encher mais que sua mãe. Enquanto isso, o errado não vai dar a mínima pra isso, e quem sabe até limpará a sujeira para você.  O homem certo vai se vestir impecavelmente, enquanto o errado pode dar umas escorregadas no jeito de vestir e mesmo assim você vai achar ele o mais lindo do mundo quando chegar com aquele sorriso no rosto que te desmonta. Não vai se importar de sujar-se um pouco e se for com você, melhor ainda.

O homem certo, depois do trabalho, se matará na academia pra ficar com o corpo perfeito. Enquanto isso, o homem errado vai ter uma barriguinha de cerveja, e você vai até gostar disso. Ele chegará do trabalho com uma massa nas mãos e duas cervejas para cozinharem juntos, e você vai pensar consigo mesma se quem está ali é mesmo o cara errado.

 O homem certo te mandará flores em todos os dias de comemorações de aniversário, dia de namorados e afins.  Com o tempo, você não achará mais graça de tão previsível que ele se tornará. No entanto, com o homem errado, você vai ser surpreendida quase sempre por aquela blusa que você nunca compraria, mas ele demorou horrores para escolher para você, e essa escorregada não terá a menor importância, porque ele estará ali do seu lado e topará qualquer programa de índio só para te ver sorrir.


O homem errado vai te encher, sim, de conversas e ideias malucas, de poesia, música, alegria e projetos. Vai encher e preencher a sua vida de beijos, carinhos e abraços, faltará espaço para tantos momentos genuínos.  O homem errado vai rir na sua cara das suas loucuras e seu jeito desajeitado. Não terá frescura e topará qualquer momento que seja com você. No entanto, você vai ter certeza de uma coisa: que o homem errado, na verdade, é o certo para sua vida. Assim como você é cheio de erros e defeitos, e nada melhor que duas pessoas erradas juntas para dar tão certo.

Beijos enormes! 

domingo, 12 de junho de 2016

Viva o amor!


Oi gente!


Saudade de escrever para vocês!

Como hoje é o dia dos namorados eu queria escrever algo bonito e postar aqui no blog, já que quase abandonei-o: cá estou!

Como eu sempre acredito no amor e na força que ele tem para mover a vida e nossas paixões, até mesmo aquelas escondidas. O amor pode não bater na porta na hora exata, mas se ele apareceu é porque temos que vive-lo não é mesmo?  Já pensou se tiver hora marcada para o amor aparecer? Seria chato demais. Todos nós vivemos em um movimento que se chama paixão, temos paixão por música, séries (até demais rs) filmes, time de futebol, pela nossa família, pelo emprego que lutamos para conseguir, por escrever (mesmo que não seja lá grande coisa), isso nos move para o mundo, para a vida que sonhamos em viver.  Porém, ninguém nasceu para ficar sozinha a vida inteira. Temos que nos apaixonar por outra pessoa, sentir o barulho imenso que o outro vai causar no nosso mundinho tão tranquilo. Aquele que vai nos tirar da nossa área de conforto no qual estamos acostumados e ficamos acomodados ali - jogado num canto.

Você pode estar com a roupa mais difícil de decifrar pela combinação de cores que nem o Augustinho Carrara (personagem da Grande Família) ousaria em vestir. Toda suada correndo para manter a forma e de repente aquele cara de olhos verdes fala oi e tudo muda. O amor pode chegar cedo para alguns e com uma animação total, de casa limpa, roupas lavadas, com cabelos devidamente lavados e toda arrumadinha, com seu emprego novo e aquele quadro super maneiro que você comprou e colocou na sala. Isso não é uma questão de querer, pois se fosse assim todos os solteiros do universo nesse momento desejariam o amor e com um passe de mágica não existiria nenhum solteiro na face da terra.  Porém em alguns casos ele pode chegar tarde e você desiludida da vida, toda bagunçada e cheia de olheiras, e mesmo assim ser o mais incrível possível.  Ele pode passar despercebido, e quando se vê o amor já está na outra esquina.

O amor odeia momentos clichês, então não espere bombons e presentes. O amor é surpreendente, não tenha dúvida disso! Não existe pessoa certa ou errada, existem duas pessoas que almejam e querem de verdade fazer com que o amor funcione entre elas. Todos nós temos defeitos e qualidades, e se alguém amar mais o seus defeitos pode acreditar que é amor de verdade. Como eu escrevi em outro texto: o cara errado quase sempre é o mais legal de todos.
Seja paciente, amável e nunca julgue o outro sem saber o que ele tem a dizer pra você. Pois o amor não se encontra em qualquer esquina. Valorize da melhor e mais agradável forma que você puder.  O mais importante disso tudo seja feliz solteira ou namorando - comemore.  Acredite sempre, pois o amor é a força que move nossas vidas.

Beijo enorme!


sábado, 4 de junho de 2016

Gosta de sapatos?






Ele é do tipo antigo, rústico, ou qualquer uma dessas palavras não poderia decifrá-lo. É apaixonado por velocidade, rodas e tudo referente a carros, o típico homem do século atual.  Ela é daquelas garotas românticas, algumas vezes independentes só por fora, pois por dentro almeja alguém que a proteja e literalmente fique ao seu lado para sempre. Ele diretor de uma empresa que está ganhando mercado. Ela estudante, só que seu foco principal é se tornar uma escritora, talvez uma romancista de sucesso. 

Os dois vivem longe um do outro, com os dias atribulados de afazeres e nem por isso deixam de acreditar no amor. Os dois são singulares e talvez não se reconheçam como tal. Ele no mundinho dele, suas notas pra pagar, contando cada centavo e esticando o orçamento para conseguir se estabilizar como um empreendedor de sucesso.  Ela com seus livros e mais livros, anotando todas as ideias que surgem em sua mente como um relâmpago. Sua pequena casa infestada de papeis e anotações por todos os lados. Um dia desses até encontrou blocos dentro da geladeira do lado da torta de limão que a mesma preparou e sorrio por dentro de satisfação por nunca deixar de ser ela mesma. 

O sonho dela é a pluralidade em sua casa, alguém no fim do dia para dividir os momentos bons e também os não tão fáceis da vida. Falar de como foi estressante seu trabalho, ou como foi difícil de lidar com seu lado criativo como uma futura romancista. Quer a casa cheia de amor, quadros na parede escolhido pelos dois, cada detalhe com os gostos misturados, mesmo não o conhecendo. Quer sentir todas as diferenças que os dois podem ter, gostos diferentes, porém no fim de tudo a vida vai valer a pena. 

Ele só quer alguém que divida uma cerveja no fim do dia, estique as pernas e fique conversando sobre os casos da empresa que não deram certo. No fundo ele pode ser rústico ao quadrado, só que seu coração está aberto sem travas e trancas. Apto ao romance. Ele é daqueles caras certinhos, onde tudo tem seu lugar e hora, não extravasa, entretanto seu sorriso conquista qualquer pessoa. 

Em um dia qualquer sem saber a hora exata que seus corações irão disparar e enfrentar toda a multidão. Ela foi até a padaria comprar algo doce pra comer, ele teve que levar o celular na assistência técnica, não estava mais carregando. Os dois caminhando e fazendo um caminho totalmente contrário. E numa conexão fora do comum, ele se lembra de que precisa comprar algo para comer. No caminho que suas pernas o levam e seus passos pesados encontram a direção certa, ele encontra uma moça parada na vitrine olhando sapatos. Ele chega perto e pergunta: gosta de sapatos? 

Beijos enormes!
Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade


sexta-feira, 27 de maio de 2016

O jazz de Verônica



Ela está sentada em algum café em uma cidade distante, sua memória parece flutuar contra o sol do entardecer, onde os prédios espelhados parecem um céu refletindo - o. Não lembra do seu próprio nome e suas lembranças talvez nunca voltem. Apenas sabe que era noiva de alguém que se chamava Victor. Victor acabou falecendo no acidente e o que restou dos dois e suas possíveis lembranças foi apenas uma caixa.

A única coisa que sabe que as pessoas falam é que estava feliz, ele tinha a pedido em casamento e ainda guarda o anel e uma foto dos dois. Verônica não tem nenhuma lembrança dos dias felizes com ele. No pequeno apartamento onde já estavam juntos há alguns anos há coisas antigas, retros, quadros que compraram juntos, um porta-retrato com a foto dos dois muito sorridentes, e nada trás uma ínfima ideia de como passou os dias naquele lugar. Se fizeram guerra de almofadas, se comiam brigadeiro assistindo comédias românticas, se discutiram alguma vez, qual seria seu cheiro, o som da sua risada, nem o tom da sua voz ela lembra. Muitas perguntas e muito “se” que ninguém foi capaz de responder.

Ela vivia em mundo suspendo com lembranças que os outros falavam e tinha a impressão que apesar de tudo alguma coisa dentro dela era mais forte e em algum momento  iria lembrar-se de qualquer detalhe. Um detalhe pequeno que seja uma memória escondida atrás da sua mente agora apagada. Ela tinha esse dever não por ela, no entanto por esse amor intenso que as pessoas  comentavam de como ele a fazia feliz todos os dias.

A família e os médicos disseram que seria melhor viajar, conhecer outros lugares, novos ares, ver gente, quem sabe alguma lembrança dentro dela que está adormecida poderia por um milagre despertar. E nesse momento ela está ali como uma caixa em branco recuperando algum resquício de sua história.  Mantém um diário para lembrar-se das pequenas coisas que a faz feliz. O sol do fim da tarde, um livro bom, uma pessoa nova que a conhece e até a comida favorita. Verônica está se reconhecendo como ser humano em um mundo que não é mais seu.

De repente em algum lugar em algum momento ela ouve uma música, e a mesma fez seu coração bater e alguma imagem de um garoto sem rosto em algum lugar pegou sua mão e a fez dançar rodou com ela e a fez rir muito. Verônica repetia freneticamente que jazz não se dança, e ele a rodopiava cada vez mais forte. E ria, e ria, e ria, até que a imagem se apagou...  Um jazz que fez seu mundo parecer mais perto de seu coração e a fez sentir mais perto das outras pessoas que também fazem parte do seu mundo. Pode não se lembrar de momentos passados e sua vida parecer atribulada, porém  agora ela tem certeza que esse jazz fez parte da sua vida.  Na primeira página de seu diário está escrito com uma letra bonita em caixa alta o título: O Jazz de Verônica. Depois desse dia sua vida teve um novo sentido.

Beijos enormes!

Texto publicado originalmente no jornal: A Novidade



sexta-feira, 20 de maio de 2016

O destino


Bernardo já beirava quase seus quarenta anos. Ele era simples, gostava de música boa, cinema e lia freneticamente tudo que estava ao seu alcance. Era professor de Filosofia em uma faculdade conceituada. Sua vida se resumia aos livros, vinho tinto e de vez em quando um cigarro de chocolate. Sua postura diante da vida sempre foi de um homem sério, usava óculos e mesmo quase quarentão usava acessórios que deixava a sua marca ainda da adolescência como as pulseiras de couro e também os tênis converses.

Vivia sozinho em um apartamento do centro da cidade com seu gato chamado Lenin.  Nem sempre sua vida foi tão tranquila assim. Bernardo já amou muito e tudo o que restou desse amor ele colocou em uma caixa que deixa bem distante dos seus olhos para seu pobre coração não sofrer mais. O coração de Bernardo anda desocupado pelos amores da vida. Ele não se deixa amar e nem ser amado, tudo o que já viveu está trancado em uma caixa com um cadeado.

De vez em quando ele abre a caixa que sempre está escondida: dentro da mesma há fotos, cartas, bilhetes flores secas, coisas que hoje em dia quase ninguém mais usa. Ele é daqueles caras românticos, gosta deVan Gogh e também poesia medieval. Até tentou escrever um livro, só que sem sucesso.  Seu coração fica pequeno naquelas lembranças todas de Sofia.  Ainda pensa se deve ou não procurá-la. O que ela estará fazendo nesse exato momento, enquanto ele revira todas aquelas lembranças junto com seu coração que fica pequeno diante de tudo.

Enquanto isso no outro lado da cidade Sofia também pensa em Bernardo, e ainda guarda uma foto dos dois em um fundo falso da gaveta de sua escrivaninha, onde a mesma utiliza para escrever sua coluna diária. Sofia tem mais de trinta anos e é do tipo de mulher esportista, gosta de correr enquanto ouve as músicas em seu ipod. Vegetariana e adora música clássica, porém ainda bebe vinho tinto em noites estreladas em sua varanda relembrando os dias intermináveis com Bernardo. Não lembra direito qual o motivo que os dois se afastaram tanto. De vez em quando ela fecha os olhos e ainda sente o cheiro do seu perfume pelo ar.

Em um dia qualquer como qualquer outro Bernardo e Sofia não sabem, no entanto o destino é brincalhão com os dois. Bernardo sai de casa mais cedo, pois quer passar em uma cafeteria tomar um expresso e ainda ler alguns manuscritos de algum aluno. Sofia terminou seu livro e quer entregar pessoalmente para alguém que irá corrigi-lo. Ela decide ir a pé e sente o cheiro de café pelo ar das ruas onde as calçadas estão repletas de folhas, sinais do outono em qualquer cidade. Ela passa pela cafeteria e uma força maior lhe faz entrar e pedir um expresso.

De repente Bernardo vê Sofia ali bem ao alcance do seu coração. Na mesa ao lado tomando seu expresso e folheando um livro qualquer. Então o inesperado acontece, ela levanta os olhos e seus olhares se encontram e na mesma sintonia um sorriso sem graça entre os dois acontece. Ele toma coragem e vai ao seu encontro. Depois desse dia Bernardo destrancou a chave do seu coração e Sofia o correspondeu após de tanto tempo, de tantos desencontros. Algum tempo depois descobrem que faziam o mesmo caminho quase todos os dias e não se encontraram uma única vez. Bernardo e Sofia não lamentam, apenas vivem como qualquer casal depois de muitos desencontros, finalmente o encontro mais esperado aconteceu.

Beijo grande! 

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.