domingo, 16 de novembro de 2014

A lesadice de ser cadeirante!

 
  Eu só quero uma coisa nessa vida! Poder sair como todo mundo, sem preocupações alheias e aquelas acusações familiares.  Tuigue, deixa de  ser louca! Tuigue, você não pode isso, você não pode aquilo. Eu sei que não é levianamente, mas mesmo com limitações queremos nos virar sozinha.  As pessoas sempre estão colocando limites na nossa existência de cadeirante, não  querer e gostar é uma coisa, mas ter vontade própria é bem outra. Só quero poder sair sem preocupação, ir lá, ali, e mais naquele lugar, eu sei que ainda encontramos muitas barreiras, mas sempre se dá um jeitinho quando realmente se deseja alguma coisa. Não preciso que empurre a cadeira, eu tenho braços fortes pra isso, e bem fortes com as minhas sessões de musculação para o tronco e braços, eu ainda me viro bem sozinha e também já sou bem grandinha.  Então, umas semanas atrás fui na casa da minha irmã sozinha, em um domingo de manhã, e notei que essa cadeira eu me canso menos. Estava um dia nublado, os carros passavam pelas ruas e olhavam a cadeirante doida, a vida estava passando e eu também estava ali fazendo meu papel como qualquer pessoa. De repente eu estava passando na frente de uma casa de esquina, e tive que parar para ver se estava vindo carro para passar e ouvi uma conversa que me chamou atenção, até diminuí a velocidade do impulso das minhas rodas. Na situação estavam dois homens adultos sentados na área de uma casa e uma menina que deveria ter 4 ou 5 anos. O pai fala para a filha:
Pai: Olha filha, a menina de rodinhas passando
Filha responde para o pai: Não pai, é uma moça andando de cadeira de rodas.
(risos) Como criança é doce e não tem preconceito, até sorri por dentro, para a menina, a minha situação é corriqueira, ela soube que estava numa cadeira e como todo mundo estava ali.
A rua por onde a lesada passou...

Eu vi que ela chegou mais perto do portão, então abanei pra ela e falei um "oi", e a menina correu pra dentro da casa. A menina doce que soube trocar as rodinhas por cadeira de rodas. Essas situações que passamos na rua, vivenciamos, nos faz acreditar que o mundo ainda tem jeito, não precisa ser perfeito, pode ser meio torto, capengo, mas que seja de um jeito legal. Eu não sou perfeita, tenho tantos defeitos, sou muito crítica, comigo e com os outros, mas estou aprendendo. E é aprendendo que a gente segue, segue pra frente, experimentando, ousando, outros sabores e gostos que a vida nos proporciona. O resto do percurso correu normal, entretanto quando entrei na rua para a casa da minha irmã os cachorros vieram todos para o portão latir, anunciando a minha chegada. (gargalhadas) Até um vira lata que estava deitado em alguma calçada chegou perto da lesada que vos fala e deu alguns latidos, (medo) mas segui meu caminho tranquilamente e ele ficou parado no meio da estrada me olhando. Quando cheguei na casa da minha irmã, fomos  todos de "pé" até o parque. E foi assim, que a cadeira foi testada, sozinha é claro.

Não podia terminar esse post sem algumas fotografias... (risos)





segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Ela!


Eu rodo apaixonada por aí, sim, apaixonada por ela. Ela que me aguenta o dia inteiro, minhas neuras, alegrias, sorrisos e felicidades, as maluquices de uma cadeirante. Ela que suporta os dias terríveis, as TPMs e tudo mais. Ela que aguenta os dias menos felizes que a gente tem. Ela que aguenta as pernas cansadas, a coluna torta e também as neuras de uma cadeirante. Ela que se olha no espelho e por nada se acha gorda e por muitas vezes também se acha legal. Tenho saudades imensas dela, das suas maluquices e da quietude que ela também me traz.  Das conversas e daquele chocolate gostoso que sempre está  junto com algum livro ou o computador que ela fica ali pensando no que irá escrever. Gosto do jeito de moleca e também da seriedade quando é preciso. Gosto de saber que mesmo com poucas palavras ela está se transformando em uma pessoa melhor. Gosto de quando ela se arrisca e faz coisas sem pensar. Gosto de pensar na vida e na paz que ela sempre me traz. Gosto de saber que além das rodas existe uma pessoa como outra qualquer sentada na cadeira de rodas. Gosto de quando ela não se preocupa e come aquela pizza com o maior prazer. Gosto de pensar no que se foi, nessa vida de cadeirante e também dos vários momentos que ainda estão por vir. Gosto quando ela assume o papel de ser só ela, apesar das diferenças que a encontra nas ruas, nas calçadas, por onde ela passa. Gosto de pensar na sombra e na timidez que sempre trouxe consigo, a sombra dela sempre será desenhada por rodas, mas não rodas comuns, rodas de uma cadeirante que apesar de todas as consequências e turbulências que o ruído da vida traz consigo, ela se fez diferente. Gosto de pensar nos filmes Franceses que ela tanto ama. Gosto de escutar o seu gosto musical, pois assim sempre serei mais pra ela. Gosto dos livros e dos textos que ela sempre lê, pois seus olhos ainda tem o brilho do primeiro que se apaixonou. Ela me aguenta, me suporta, me irrita, me faz chata e também "praguinha", às vezes ela é tão chata que não sei como suportei  por todos esses anos. Quando ela quer, ela sabe ser irritante, mas ela também tem seu lado doce e meiga como toda e boa pisciana com ascendente em sagitário, ela é mística e gosta de pensar na vida como uma forma natural de si mesma. Sabe? Eu gosto dela, ultimamente ela tem sido uma boa menina, ai penso! Puts, eu amo ela, não porque gosto e também por suportar tudo isso, mas porque preciso. Percebeu? Ela sou eu, eu sou ela, e nós fizemos uma única pessoa. Diferentemente, talvez às vezes não concordo com tudo que passa nesse mundo. Ainda tenho muito o que aprender, aprender a ser, aprender a fazer, mas o necessário é gostar da vida que levamos, da vida que temos e muitas vezes queremos mudar, entretanto há coisas imutáveis, mesmo que o conformismo não faça parte da nossa existência, temos que nos adaptar, claro que a adaptação é sempre para melhor! Eu precisava desse dia, dessas palavras, porque talvez sendo ela, sempre serei eu.



Beijo Grande!