sexta-feira, 30 de outubro de 2015

A garota da cadeira vermelha




É só sentar na cadeira vermelha que ninguém percebe quem é ela de verdade. Mudou de nome e sobrenome, cortou o cabelo, mudou até o tom do brilho de seus olhos. Mudou de estilo, religião, adotou novas perspectivas. Mudou de classe social, não lê mais romances água com açúcar, mudou até seu jeito de ouvir e falar. Mudou seu estilo musical, adeus Pearl Jam e bem vindo Belle and Sebastian. Agora, carrega consigo apenas uma mala e a cadeira vermelha.

Na mala, o básico: um all star surrado, alguns jeans velhos, meias coloridas e camisetas brancas e pretas. Alguns livros de literatura, já que isso ela não conseguiu se desfazer. O velho e bom ipod: músicas novas e antigas para lembrar de como foi um dia.  

Um carro antigo, um garoto legal, com olhos intensos e sorriso doce, dirige enquanto ela coloca os óculos de sol e se deixa levar pela música que toca no rádio e o vento que bate contra seus cabelos.  Ela apoia os pés no painel do carro enquanto a estrada estava vazia, porém repleta de árvores que lhe fazem pensar na vida.  As placas que seguem a deixam mais longe da sua vida rotineira. Ela esboça um sorriso tímido. O garoto legal lhe pergunta o que ela está pensando. A garota da cadeira vermelha responde: que se sente feliz. O destino deles? A vida. 

Quem é essa garota que olha para o espelho, mesmo com os outros a titulando como uma mulher - a mesma ainda não se convenceu e se vê apenas como uma garota. Talvez não seja a garota ideal, no entanto ela é simples, tentando subtrair as mudanças da vida. Ela se sente alegre, por sentir que não precisa estar no controle o tempo todo. Às vezes, precisamos o descomprometimento de sermos nós mesmas.   Precisamos mudar de vida, de amor, de ideia, de endereço, de cor de batom. A gente não cansa, essa e a nossa inconstância da procura da felicidade. Leve o tempo que for. Essa nossa busca insana é que nos faz viver de verdade. Independente das escolhas que fizemos.  Somos apenas garotas dentro de outras garotas.

Além do mais, ainda existe a cadeira vermelha que ela pode se camuflar quando cansar de ser ela mesma.

Publicado originalmente no Jornal: A Novidade em 31/10/2015

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Pequenas gentilezas


Gentileza: ação nobre, distinta ou amável. Capacidade de perceber uma necessidade de alguém ou retribuir algo que lhe foi feito, sem ser pedido. Ou seja: ter educação é ser gentil.  E nós cada vez mais percebemos a falta que essa palavra faz no nosso cotidiano. O mundo está escasso de ações amáveis, de gente que olhe para o outro. De gente que perceba que os pequenos gestos pode mudar o seu dia de uma maneira inacreditável. Gentileza não deveria ser surpreendente, e, sim, um hábito.





O jeitinho brasileiro sempre derrota as gentilezas. Se vê gente estacionando em vaga de deficientes, só cinco minutos;  de cinco minutos vira dez, vinte e, quando vê, já se passaram duas horas, e o carro do cidadão está lá na vaga de quem precisa realmente. Aquela vaga é algo importante para quem precisa de uma cadeira de rodas para se locomover. Tenha consciência disso.  
E a falta de gentilezas não param por aí, existem até pessoas que terminam relacionamentos por mensagem texto, skype, ou qualquer outro meio que não seja pessoalmente. Falta a coragem de olhar no olho do outro e falar que tudo terminou, que foi bonito a passagem daquele amor, que foi válido. Gente que é covarde até no ultimo abraço, das lágrimas que escorrem pelo rosto cansado.  Naquele momento difícil, porém importante para o corte dos laços que ainda os unem.
E as gentilezas onde ficam? Ficamos percorrendo um mundo cada vez mais violento e gente passando pelas ruas, sempre tão frenéticas. Trabalho, almoço, reunião, mandar e-mail, postar a foto, ligar pra esposa, faculdade, apresentação, escrever a matéria para o jornal. O tempo escorre entre nossas mãos e ficamos perdidos, perdemos até a direção de nossas vidas. E não olhamos para o lado: para moça que te dá um sorriso ou acena a cabeça enquanto atravessa a rua; para a criança e seu olhar de admiração com o seu novo brinquedo; para a chegada da primavera e das flores que aparecem de leve pelas avenidas que passamos.

A gente esquece os pequenos detalhes da vida, do pedaço de bolo que a mãe faz, dos conselhos da Vó,  do desenho da criança faz com toda a família, e ela logo diz: 
- Olha mãe, eu desenhei nossa família.

Às vezes, perdemos pequenos capítulos, pequenas perguntas que ficam pairadas no ar. Queremos voltar ao passado para agarrar apenas aquele momento. Sinto muito, o passado não volta. Aproveite o que puder, seja gentil com as pessoas, e pare de olhar para o próprio umbigo. O mundo precisa de pessoas que tenham como lema: gentileza gera gentileza. Quem sabe assim a vida poderia ser muito melhor, pois como disse o profeta: "Amor, palavra que liberta." Ser gentil nunca é demais. Ainda mais em um mundo cada vez mais automático.  

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade em 16/10/2015

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Somos quem podemos ser



Quem somos nós? Algum dia todo mundo já se fez essa pergunta. Alguém por acaso já conseguiu uma resposta concreta sobre tal questionamento. Não. Porém, tentamos a vida inteira sermos pessoas melhores. Podemos nos intitular de uma maneira e se vê de uma forma totalmente diferente que as outras pessoas estão acostumadas a nos ver.  Na realidade pode ser cruel, pois os que lhe rodeiam podem saber mais sobre sua personalidade do que você pensa. 



Queremos sempre ser a pessoa mais legal do mundo, curtir um rock dos anos oitenta, só comer comida saudável, gostar de vestir preto e ficar admirando os quadros de Monet. Imaginamos que nosso gosto por cor, música, arte e comida podem nos fazer diferente dos outros.  Quase sempre isso nos confunde de muitas maneiras. Queremos mostrar uma imagem legal para ser aceita em um mundo cada vez mais maluco.   
“Somos quem podemos ser”, já dizia a música.  Mesmo nas dificuldades descobrimos nossa força quanto às diversidades da vida. Isso depende muito do ponto de vista de cada pessoa, das suas perspectivas e do modo que ela se comporta e enfrenta a vida.  A gente é o que é. Sempre tentando justificar nossos erros, por medo e também por nossa própria defesa. Pare de se preocupar o que os outros irão pensar. Se precisar, extravase um pouco. Oras, erre e deixe de bobagem. Que mal há nisso! 

É clichê, mas dizem por aí que somos tudo que absorvemos do mundo. Somos as experiências que tivemos, os sonhos que realizamos, as músicas que escutamos, os livros que lemos, até as pessoas que conhecemos podem ter influência no nosso modo de ser. Somos um emaranhado de coisas que levamos para a vida, que a qualquer momento pode ser remexido, reinventado de todas as maneiras possíveis e imagináveis. 

Mas sabe de uma coisa: queremos ser notados, acolhidos, amados e sentidos. Talvez esse seja o grande propósito de nossa existência.

 De alguma forma não queremos ser esquecidos, e, sim, lembrados por pessoas que conviveram conosco, lembranças perdidas na infância, ou em algum momento especial de nossas vidas. Por isso, não há diferença entre você e a moça do café, somos todos iguais, somos apenas nós, tentando descobrir quem somos de verdade.

Se alguém lhe perguntasse o que você gostaria de ser, qual seria a sua resposta? Eu seria um livro de páginas amareladas em alguma prateleira, esperando ser aberto e descoberto. 

Publicado originalmente em 09/10/2015 em Jornal A Novidade.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Da série: Para gostar de ler

Extraordinário

Oiii gente!

Bom, semana passada terminei de ler o livro: Extraordinário. O nome já diz tudo e um pouco mais. O livro é lindo, sensível, inspirador, totalmente extraordinário.
Pode até parecer bobinho, mas ele nos traz a leveza e a sinceridade de uma criança ciente de sua estranheza e de seu deslocamento do mundo, criando  um manifesto em favor a gentileza. Sabe, aquele livro que depois que terminou de ler te torna uma pessoa melhor? Então, foi assim que me senti, não que isso seja tão visível. (hahaha) O livro é dividido em oito capítulos, alguns em que o August, o personagem principal, descreve e alguns capítulos outros personagens participam, assim mostrando um olhar diferente sobre o mesmo personagem, e como as outras pessoas o veem realmente.  Eu derramei algumas lágrimas, principalmente no fim, raramente uma história me tocou tanto, de um jeito que não tem explicação. Pode até parecer clichê, porém em algumas partes me vi como o August, às vezes você não quer ser notado e nem identificado, no meu caso como a garota da Cadeira de rodas. Seria uma boa usar um capacete de astronauta, ou quem sabe do Darth Vader. (O personagem tem um amor imenso pelo Star Wars) (risos) No livro, os personagens tem uns nomes engraçados como: da Professora Peitosa e o Diretor, Senhor Buzanfa, assim dando um ar infantil e até cômico. Eu me surpreendi com a história do Auggie e de seu crescimento quanto a sua situação, me identifiquei em algumas partes. Tenho certeza que todos nós vamos nos identificar com algo tão extraordinário que é o ser humano e sua grandeza de dar reviravoltas em suas vidas, adaptando-se ao corpo que nos habita.



August Pullman, o Auggie, nasceu com uma síndrome genética cuja sequela é uma severa deformidade facial, que lhe impôs diversas cirurgias e complicações médicas. Por isso, ele nunca havia frequentado uma escola de verdade... até agora. Todo mundo sabe que é difícil ser um aluno novo, mais ainda quando se tem um rosto tão diferente. Prestes a começar o quinto ano em um colégio particular de Nova York, Auggie tem uma missão nada fácil pela frente: convencer os colegas de que, apesar da aparência incomum, ele é um menino igual a todos os outros.

Então, não julgue um livro pela capa, ou seria um menino pela cara?

"Toda pessoa deveria ser aplaudida de pé pelo menos uma vez na vida, porque todos nós vencemos o mundo." (August)

 

Beijos enormes!