sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Para Marina (Parte 2)





Ela inspira o ar da madrugada pensando no atordoamento que o homem a sua frente lhe causou. Ele lhe pergunta: Quem é você? Marina franze a testa e logo lhe responde. Sou o que você vê e também o que você desconhece. Sou tudo e nada e ao mesmo tempo um emaranhado de perguntas sem respostas. Ele fala olhando para seus olhos cor de mel que ela, a moça dos pés descalços em uma madrugada vazia e pede o número do seu telefone. Marina sai correndo e diz gritando: Vamos ver se temos a sorte de nos reencontrar novamente.

Ela chega em casa e se joga no sofá, seu estado estava um pouco irreconhecível daquela Marina certinha. Pés sujos, vestido suado, e um pouco risonha demais. Ela adormeceu naquele sofá com o coração cheio de esperança por aqueles olhos azuis cor de mar. No dia seguinte se sentiu um pouco culpada por não entregar o número do seu telefone para o homem que nem lembrava direito sua fisionomia, pois estava escuro demais. E a semana correu como todas as outras.

No outro lado da cidade, Luiz pensava muito em Marina, ele também era um arquiteto de sucesso, e tinha uma empresa pequena destinada a construções que respeitavam as causas ambientais. Ele procurou pela internet, no entanto não sabia nem seu nome, o que fazia, qual seria seus sonhos. Ele se sentia um pouco perdido como se estivesse no meio de uma floresta. Até que estava lendo alguns artigos em uma revista, e logo percebe a foto daquela moça descalça da madrugada, só que muito certinha e compenetrada nas suas obrigações como arquiteta. Ele riu por dentro em saber que os dois eram colegas de trabalho.

Era sexta-feira e ele decidiu ficar na frente do bar, ela devia frequentar algum lugar por perto. E não deu outra, ele ficou do outro lado da rua e viu a moça de cabelos dourados entrar. Ele a seguiu sentou-se em uma mesa sozinho e pediu uma cerveja, Marina estava sozinha naquele dia, quando olha para o lado reconhece o azul daqueles olhos cor de mar. Ele retribui o olhar e fala: Oi Moça descalça da madrugada. Ela sorri. Os dois começam a rir descontroladamente, ele pega sua cerveja e senta na mesa de Marina.


Marina e Luiz talvez nunca tivessem se esbarrado se não fosse aquela noite e os sonhos que ela pensara na hora de fechar os olhos. Destino? Sorte? Nunca se sabe quando o amor bate à porta, às vezes trancamos a porta, e muitas e muitas oportunidades se perdem por não admirar o que está em nossa volta. Amor, paixão, amizade, companheirismo é isso que nos leva a acreditar que Marina e Luiz tiveram uma história. Curta? Longa? Para sempre? Não se sabe. No entanto tenho certeza que foram felizes. 

Texto impresso originalmente no Jornal: A Novidade.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Para Marina

Ela saiu do bar com seus sapatos de salto agulha pelas mãos. Sentir o ar fresco da madrugada era o que recarregava todas as energias perdidas em uma semana cheia. Era arquiteta de uma grande empresa, fazia especialização em uma universidade de renome. Estava sozinha depois de quase dez anos de namoro. Podia ser engraçada se não fosse surpreendente triste. Ela o amava muito de tal maneira que o mesmo nunca iria poder corresponde-la. Fazia quase um ano que Marina estava sozinha e todas as sextas-feiras saia para esse bar com as amigas.

Era um bar agradável com coquetéis. Bebidas com álcool e sem. No começo ela, Marina só pedia suco de abacaxi, sempre foi certinha com todas as coisas e acontecimentos de sua vida. Mas de uma hora para outra ela conseguiu um equilíbrio entre sucos de abacaxi e algumas margueritas. Marina queria esquece-lo e com o tempo as coisas estavam entrando no lugar. Tinha dois sobrinhos que sempre visitava aos fins de semana. O trabalho tomava bastante tempo de sua vida. Ela amava o que fazia e isso era muito reconfortante para o coração da menina solitária.

Vivia sozinha com seu gato chamado Marshmallow em um apartamento médio no segundo andar, gostava da vista da sacada. Prédios e mais prédios, tudo que uma arquiteta almejava. Só que seu coração vivia sozinho demais, faz muito tempo que perdera a emoção de viver. Ela sempre pensava consigo que estava na hora de dar um rumo novo para a sua vida. Por enquanto amorosa. Marina decidiu frequentar lugares que gostava. Museus sobre arquitetura e também sobre arte, cafés, livrarias. Conheceu algumas pessoas até que um pouco interessante, no entanto nada que mexesse novamente com ela.


Na semana seguinte olhando sua agenda, viu que sua semana iria ser cheia. Ela pensou, fechou os olhos e falou: Vamos lá! A semana passou voando e na sexta-feira novamente lá estava ela conversando e rindo com as amigas no mesmo bar de sempre tomando sua marguerita. Ela estava cansada e disse que iria embora mais cedo. Tirou os sapatos salto agulha e lá estava ela sentindo o ar da madrugada com seu coração vazio e os pés descalços no chão. Até que uma voz interrompe sua contemplação de olhos fechados ela os arregala de uma tal maneira que   a voz logo lhe fala: Desculpe interrompe-la. É que achei bonita você inspirando o ar da madrugada. Ela responde que é o que lhe carrega as energias de uma semana difícil. No escuro ela olha diretamente para aqueles olhos azuis e sente um atordoamento que há muito tempo, não fazia seu coração pulsar naquele ritmo novamente. 

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Do verbo amar




O que é amar para você? Algum dia todos nós já nos fizemos essa pergunta. Talvez eu já tenha algum texto que fale sobre isso. O amor está refletido em todas as coisas que olhamos e tocamos. Ele transcende nossa alma, nosso coração e até nossa própria vontade de sobrevivência aqui na terra.
O amor é algo que não podemos traduzir em palavras e muito menos podemos tocar, apenas sentir. Você pode descrever uma cadeira, do que é feita, qual material leva, que cor ela tem, se existe almofadas no assento e assim vai. O amor é simplesmente diferente, você não consegue enxergar de uma maneira tão concreta.

Sentir é o verbo usado para saber o que é o amor. Às vezes nós, humanos ficamos indecisos no ato de sentir. Será que o que estamos sentindo por aquela pessoa é amor mesmo? Ou é nosso cérebro aprontando com o nosso coração. Dizem que esse sentimento não tem explicação. Bom, até aí tudo bem. Então concluímos que quando não sabemos o que sentimos pode ser denominado amor. Só que o amor pode aparecer de várias formas. Há o amor entre amigos, amantes, apaixonados e aquele amor que fica para sempre. Como todo sentimento há os altos e baixos, só que se for verdadeiro ele passa, se arrasta e volta a ficar de pé durante qualquer crise. Amor é amor aqui, ali, e em qualquer lugar.

Muitas pessoas sentem dificuldades de pronunciar essa palavra, sentem que estão se comprometendo com o próximo, no entanto isso é uma grande bobagem. Pode existir um amor curto, porém ele vale a pena a cada segundo que se é vivido. Muitas pessoas denominam que: “não deu certo. ” Eu, denomino isso de outra perspectiva, deu certo sim, no tempo que eles foram felizes, no tempo deles. 

O verbo amar no tempo do romantismo é um dos momentos mais maravilhosos das nossas vidas e quando dura por um tempo necessário que seja bom para os dois, então a fórmula foi acertada. Você pode até descordar com essa reles cadeirante e seu jeito louco de escrever. Destranque as correntes do medo, viver com medo de perder não é legal. Ame o outro e de todos os tormentos que ele te trás. Mesmo na simplicidade o amor se faz presente, melhores, maiores momentos para descobrir esse sentimento tão indecifrável que é o verbo amar.

Publicado originalmente no Jornal: A Novidade

Uma carta para a malformação




Oi malformação. Tudo bem? Como tem passado? Espero que bem. Bom, não sei se você sabe, no entanto você está em mim faz alguns anos. Eu não te odeio, e também não te amo. Na verdade, passei por vários momentos marcantes na minha vida com você. Consegui andar depois dos três anos e minha infância foi relativamente boa. Corri, subi escadas até cansar e em alguns momentos você foi relevante comigo. Meus joelhos viviam ralados e hoje levo a cicatriz de tanto cair por você.

Você me fez crescer não de tamanho, mas de ser apenas eu e não olhar para trás. Nas brincadeiras você me fez ser sempre “café com leite” e até que diverti. Brinquei, fui ao mar e senti a areia entre os dedos dos pés. Amei, namorei, decepcionei e me decepcionaram, chorei, sorri, cresci e a vida seguiu.  Às vezes você foi sensível, outras vezes muito relutante e com o tempo acostumei com a vida adaptável que eu enfrentaria todo dia.

Nem eu muito menos nós somos culpadas dessa trajetória que o destino acertou. Hoje posso dizer que você, malformação é quase uma amiga quem sabe até querida, daquelas que tomam chá em uma tarde chuvosa. Não me veria de outra maneira e nem saberia como enfrentar isso. Talvez se fosse de outra forma hoje nem estaria escrevendo esse texto. Claro que a gente sente lá no fundo do coração uma ponta de esperança, de poder um dia qualquer como todos os outros levantar com as nossas próprias pernas e seguir, só que não é assim tão simples.


No entanto me reinvento todo dia e nas dificuldades encontro e me reencontro e você já faz parte disso, todos os dias. Sabe de uma coisa malformação pode sentar-se e ficar à vontade pois o chá já está sendo servido. 

Publicado originalmente no Jornal: A Novidade