Ela inspira o ar da madrugada pensando no atordoamento que o
homem a sua frente lhe causou. Ele lhe pergunta: Quem é você? Marina franze a
testa e logo lhe responde. Sou o que você vê e também o que você desconhece.
Sou tudo e nada e ao mesmo tempo um emaranhado de perguntas sem respostas. Ele
fala olhando para seus olhos cor de mel que ela, a moça dos pés descalços em uma
madrugada vazia e pede o número do seu telefone. Marina sai correndo e diz
gritando: Vamos ver se temos a sorte de nos reencontrar novamente.
Ela chega em casa e se joga no sofá, seu estado estava um
pouco irreconhecível daquela Marina certinha. Pés sujos, vestido suado, e um
pouco risonha demais. Ela adormeceu naquele sofá com o coração cheio de
esperança por aqueles olhos azuis cor de mar. No dia seguinte se sentiu um
pouco culpada por não entregar o número do seu telefone para o homem que nem
lembrava direito sua fisionomia, pois estava escuro demais. E a semana correu
como todas as outras.
No outro lado da cidade, Luiz pensava muito em Marina, ele
também era um arquiteto de sucesso, e tinha uma empresa pequena destinada a
construções que respeitavam as causas ambientais. Ele procurou pela internet,
no entanto não sabia nem seu nome, o que fazia, qual seria seus sonhos. Ele se
sentia um pouco perdido como se estivesse no meio de uma floresta. Até que
estava lendo alguns artigos em uma revista, e logo percebe a foto daquela moça
descalça da madrugada, só que muito certinha e compenetrada nas suas obrigações
como arquiteta. Ele riu por dentro em saber que os dois eram colegas de
trabalho.
Era sexta-feira e ele decidiu ficar na frente do bar, ela
devia frequentar algum lugar por perto. E não deu outra, ele ficou do outro
lado da rua e viu a moça de cabelos dourados entrar. Ele a seguiu sentou-se em
uma mesa sozinho e pediu uma cerveja, Marina estava sozinha naquele dia, quando
olha para o lado reconhece o azul daqueles olhos cor de mar. Ele retribui o
olhar e fala: Oi Moça descalça da madrugada. Ela sorri. Os dois começam a rir
descontroladamente, ele pega sua cerveja e senta na mesa de Marina.
Marina e Luiz talvez nunca tivessem se esbarrado se não
fosse aquela noite e os sonhos que ela pensara na hora de fechar os olhos.
Destino? Sorte? Nunca se sabe quando o amor bate à porta, às vezes trancamos a
porta, e muitas e muitas oportunidades se perdem por não admirar o que está em
nossa volta. Amor, paixão, amizade, companheirismo é isso que nos leva a
acreditar que Marina e Luiz tiveram uma história. Curta? Longa? Para sempre?
Não se sabe. No entanto tenho certeza que foram felizes.
Texto impresso originalmente no Jornal: A Novidade.
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