quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A Mudança

Renato acabou de mudar-se para uma republica onde irá cursar a faculdade de Psicologia, não conhece nada da cidade nova. Cadeirante faz 5 anos resolveu mudar toda sua história e sua vida. Queria uma vida tranquila, porém longe dos olhares dos pais, ele sabia que a superproteção não é levianamente, porem o mesmo não se sentia bem com aquela proteção toda em cima dele.

Quando chega na nova república, achou bem legal, os estudantes o receberam muito bem, e também era adaptada do jeito que ele tinha pesquisado pela internet, foi difícil encontrar algum lugar para ficar com acessibilidade e ao mesmo tempo com um preço acessível para seu bolso. No mesmo dia os estudantes saíram para beber e comemorar a chegada de dois novos amigos. Foram em um lugar, onde as mesas ficavam nas calçadas. Eles estavam felizes, principalmente Renato com a sua nova vida. Ficaram até meia noite no bar, bebendo, conversando e rindo.

No outro dia Renato levantou cedo, arrumou suas coisas e seguiu para a faculdade antes dos demais, queria chegar cedo e conhecer o ambiente. Renato também mantia uma página no facebook falando das suas andanças como cadeirante e agora mais do que nunca queria documentar sua vida de cadeirante morando em uma república e frequentando a faculdade. Chegando na Universidade se surpreendeu com o tamanho da mesma, localizada em um prédio muito antigo, com janelas arredondadas e venezianas. Mesmo sendo uma construção antiga havia rampas por todos os lados, banheiros acessíveis e caminhos destinados para cadeirantes ou pessoas com mobilidade reduzida.

Tudo aquilo que ele via parecia um sonho se realizando na cabeça do mesmo, já que sua maior dificuldade na sua pequena cidade era sempre o acesso que era quase zero. Passou antes pela biblioteca e checou quase todos os livros que precisava. Entrou na sala destinada que já estava enchendo de alunos e ficou esperando até que o professor chegou e começou a explicar sobre a introdução da Psicologia. Ele, como todo bom aluno estava super interessado no conteúdo e até já estava marcando alguns tópicos para depois pesquisar melhor. Só que uma voz interrompeu sua atenção da aula.
Licença Professor. Desculpe o atraso.
Pode entrar e sente-se.

A moça veio em direção a ele e senta-se ao seu lado, ela se apresentou como Camila, os dois trocaram algumas palavras e continuaram a prestar atenção na aula. Renato veio para a casa um pouco atordoado e seus pensamentos estavam direcionados a Camila. Não parava de pensar na moça dos olhos acinzentados e sorriso largo.

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade. 


terça-feira, 13 de setembro de 2016

Dois




Estou aqui, enquanto escrevo esse texto para vocês degustando um pedaço de chocolate meio amargo. Você pode me perguntar porque escolhi o meio amargo? Eu lhe respondo que sempre preferimos um equilíbrio. Nesse caso é no equilíbrio que vamos vivendo, sentindo, realizando, as emoções, os sentimentos, os motivos.

Você pode preferir o amor de todas as estações possíveis, e pode ter certeza que até o amor tem personalidade. Vai desde o mais atormentado, e passa pelo equilibrado chegando no calmo. A gente passa por muitas experiências na vida, tanto amorosa, quanto familiar até profissional. Em todos os casos o amor está presente no nosso cotidiano. No entanto, o amor entre duas pessoas é o que mais nos afeta drasticamente. Passamos por momentos que nunca pensamos presenciar na vida, sofremos, amamos e aprendemos que quando o amor chega de verdade nos muda completamente.

Eu prefiro os calmos e sem sucesso com muito amor no coração, daqueles que tem braços compridos e você cabe dentro dele em um dia difícil. Prefiro os olhos calmos e profundos, daqueles que existe uma sinceridade e percebe-se que a verdade daquele olhar que vai te acalmar em dias de tormentas. Prefiro os de sorrisos largos e riso frouxo, vozes que ficam pela casa, o cheiro que fica impregnado nos lugares mais inacessíveis. Prefiro aquele que divide uma pizza em um dia mudança, onde as taças estão empacotadas e o vinho vai parar dentro das primeiras canecas encontradas nas caixas da mudança.


Prefiro a casa quase vazia, onde os móveis vão tomando o lugar da vida dos dois, prefiro aquele sorriso e a música ao fundo daquele lugar que agora irá se tornar plural. Não se compare, não sofra antecipadamente, tudo chega na hora exata das horas e o tempo não falha. E no dia marcado quando for dormir e saber que no dia seguinte o amor ainda estará do seu lado. Você vai sentir paz no coração, tranquilidade e o equilíbrio de ser dois e não apenas um. 

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.

O Improvável (Final)

Depois do braço que Ana e Luiza trocaram as duas sentiram que não poderiam negar o que elas estavam sentindo naquele momento. Ana sentiu o coração de Luiza disparar enquanto as duas trocavam os afagos mais importantes das suas vidas. Nada naquele momento importava, as pessoas ao redor que passavam e admiravam as duas meninas, a lua que compactuava com aquela emoção, as estrelas que brilhavam mais naquela noite em que seus corações se apaixonaram.
Luiza sentiu o cheiro de álcool que Ana exalava e falava para ela não ir, pois era noite de sexta e ela poderia ficar mais para fazerem alguma coisa juntas.  Luiza concordou em ficar e as duas saíram pelas ruas da cidade escura, embriagadas e felizes. Não pensavam em mais nada só ficar na companhia uma da outra. 

Procuraram algum bar aberto naquela cidade pequena que já passava da meia noite, não encontraram nada. As duas estavam famintas e o efeito do álcool estava indo embora.
Encontraram um food truck que preparava um cachorro quente com um molho especial. Sentaram-se em uma mesa disposta e começaram a conversar com mais seriedade. Se deliciaram com a comida. Ana confessou que fazia muito tempo que não se sentira tão feliz ao lado de alguém. Entre vinhos e cachorro quentes, coisas simples, porém importantes ao lado de Luiza. Luiza sorriu e seus olhos encheram de lágrimas sinceras, que também confessou que jamais imaginara se sentir daquele jeito ao lado de Ana.

Ana se comoveu com as palavras de Luiza e sabia que ela sempre foi uma menina fechada para o mundo, para as coisas da vida e aquelas palavras tocou o coração de Ana de um jeito simplesmente atormentador para o lado bom. Ana enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto de Luiza e a mesma segurou a mão de Ana e a beija em um gesto de carinho. Ana fala que deseja ver Luiza mais vezes, na verdade todos os dias e as duas gargalham e a noite já se transformou em dia.


Elas saem andando pelas ruas vazias com as mãos entrelaçadas, o sol aparece e aquece o amor que estavam sentindo naquele momento. Elas se sentem realizadas, os sorrisos entregam o melhor presente que a vida lhes trouxe: O amor. Ninguém duvida que foram muito felizes, compraram uma casa com janelas brancas e um jardim florido. Anos mais tarde Luiza deixou seu emprego no banco e escreveu seu próprio romance, dizem que até hoje continua escrevendo olhando as roseiras brancas do seu jardim. Ana fez faculdade de moda e se dedica a desenhar roupas para pessoas com deficiência. As duas se casaram em uma tarde de verão e até adotaram uma menina que leva o nome de Laura.  E você, ainda duvida do amor entre essas duas? Elas mandam notícias e incentivam a nunca desistirem do que você realmente acredita. O amor nos muda, move o mundo em que vivemos. Acredite sempre! 

Texto impresso originalmente no Jornal: A Novidade. 

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O Improvável (Parte II)



Mesmo ainda não lendo uma frase do livro: o invisível, e o telefone insistia em tocar.  Luiza pega o telefone e coloca no seu ouvido e fala:
 - Alô! Do outro lado ouve uma voz suave e pausada pronunciando o seu nome por inteiro que quase ninguém a chamava assim, somente sua mãe. Maria Luiza é a Ana. Lembra de mim?
-Sim, claro.
-Então, estava pensando que podíamos sair para tomarmos alguma coisa e conversar sobre as aplicações que quero fazer. Você poderia me indicar qual seria a melhor, lucros e valores.
Luiza pensa consigo que Ana foi bastante perspicaz com aquela desculpa, mais mesmo assim aceita.

As duas marcaram de se ver em um bar perto da casa de Luiza, ficava duas quadras dali. Ela se arruma com a primeira roupa que encontra no seu armário, Luiza nunca foi de muitas peças de roupas, ela gosta do básico, uma calça jeans camiseta florida e um tênis de alguma marca desconhecida, sempre os náuticos, levou um cardigã pois a noite estava fria.

Quando chegou ao bar Ana estava sentada a sua espera, ela estava magnifica em um vestido preto e jaqueta da mesma cor, Luiza se sentiu estranha em pensar em Ana daquele jeito.  Na mesa, uma água com gás, um copo vazio, celular e vários pertences de Ana jogados, bloco de notas, canetas. Ela sentou-se e sentiu familiar a toda aquela situação de um jeito que nunca imaginou sentir antes.

Por incrível que pareça as duas não tocaram no assunto banco e investimentos. O foco da conversa foi outro, livros, música, trabalho, o que queriam da vida, suas perspectivas e assim a conversa rolava solta. Pediram vinho tinto suave, Luiza pensou consigo que as duas tinham bastante coisa em comum. Elas riam, conversavam e cada minuto que passava a conversa fluía de uma magnitude indescritível. Elas se sentiam felizes por encontrar uma a outra e o álcool já perfumava o hálito das duas.

Depois de algumas horas, perceberam que o bar já estava fechando, pagaram a conta e saíram daquele lugar. Luiza agradeceu por ser sexta-feira e por isso poderia ficar até mais tarde na rua naquela noite de agosto. Elas se sentiam felizes, talvez Luiza não teria consciência de tudo que estava por vir desde aquele encontro de olhares em um dia comum de trabalho.

As duas andavam lado a lado pela noite escura, a cidade estava vazia, e o vento esvaziava as folhas das árvores. De repente Luiza fala para Ana que precisa ir, já está muito tarde. Ana olha com aquele olhar doce e Luiza não se contém, as duas se abraçam na despedida e o abraço dura mais que deveria. Ana sente os dedos de Luiza em suas costas, o afago que esperou por toda a vida.  

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.