Mesmo ainda não lendo uma frase do livro: o invisível, e o
telefone insistia em tocar. Luiza pega o telefone e coloca no seu ouvido e fala:
- Alô! Do outro lado
ouve uma voz suave e pausada pronunciando o seu nome por inteiro que quase
ninguém a chamava assim, somente sua mãe. Maria Luiza é a Ana. Lembra de mim?
-Sim, claro.
-Então, estava pensando que podíamos sair para tomarmos
alguma coisa e conversar sobre as aplicações que quero fazer. Você poderia me
indicar qual seria a melhor, lucros e valores.
Luiza pensa consigo que Ana foi bastante perspicaz com
aquela desculpa, mais mesmo assim aceita.
As duas marcaram de se ver em um bar perto da casa de Luiza,
ficava duas quadras dali. Ela se arruma com a primeira roupa que encontra no
seu armário, Luiza nunca foi de muitas peças de roupas, ela gosta do básico,
uma calça jeans camiseta florida e um tênis de alguma marca desconhecida,
sempre os náuticos, levou um cardigã pois a noite estava fria.
Quando chegou ao bar Ana estava sentada a sua espera, ela
estava magnifica em um vestido preto e jaqueta da mesma cor, Luiza se sentiu
estranha em pensar em Ana daquele jeito.
Na mesa, uma água com gás, um copo vazio, celular e vários pertences de
Ana jogados, bloco de notas, canetas. Ela sentou-se e sentiu familiar a toda
aquela situação de um jeito que nunca imaginou sentir antes.
Por incrível que pareça as duas não tocaram no assunto banco
e investimentos. O foco da conversa foi outro, livros, música, trabalho, o que
queriam da vida, suas perspectivas e assim a conversa rolava solta. Pediram
vinho tinto suave, Luiza pensou consigo que as duas tinham bastante coisa em
comum. Elas riam, conversavam e cada minuto que passava a conversa fluía de uma
magnitude indescritível. Elas se sentiam felizes por encontrar uma a outra e o
álcool já perfumava o hálito das duas.
Depois de algumas horas, perceberam que o bar já estava
fechando, pagaram a conta e saíram daquele lugar. Luiza agradeceu por ser sexta-feira e por isso poderia ficar até mais tarde na rua naquela noite de
agosto. Elas se sentiam felizes, talvez Luiza não teria consciência de tudo que
estava por vir desde aquele encontro de olhares em um dia comum de trabalho.
As duas andavam lado a lado pela noite escura, a cidade
estava vazia, e o vento esvaziava as folhas das árvores. De repente Luiza fala
para Ana que precisa ir, já está muito tarde. Ana olha com aquele olhar doce e
Luiza não se contém, as duas se abraçam na despedida e o abraço dura mais que
deveria. Ana sente os dedos de Luiza em suas costas, o afago que esperou por
toda a vida.
Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.
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