sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O Improvável (Parte II)



Mesmo ainda não lendo uma frase do livro: o invisível, e o telefone insistia em tocar.  Luiza pega o telefone e coloca no seu ouvido e fala:
 - Alô! Do outro lado ouve uma voz suave e pausada pronunciando o seu nome por inteiro que quase ninguém a chamava assim, somente sua mãe. Maria Luiza é a Ana. Lembra de mim?
-Sim, claro.
-Então, estava pensando que podíamos sair para tomarmos alguma coisa e conversar sobre as aplicações que quero fazer. Você poderia me indicar qual seria a melhor, lucros e valores.
Luiza pensa consigo que Ana foi bastante perspicaz com aquela desculpa, mais mesmo assim aceita.

As duas marcaram de se ver em um bar perto da casa de Luiza, ficava duas quadras dali. Ela se arruma com a primeira roupa que encontra no seu armário, Luiza nunca foi de muitas peças de roupas, ela gosta do básico, uma calça jeans camiseta florida e um tênis de alguma marca desconhecida, sempre os náuticos, levou um cardigã pois a noite estava fria.

Quando chegou ao bar Ana estava sentada a sua espera, ela estava magnifica em um vestido preto e jaqueta da mesma cor, Luiza se sentiu estranha em pensar em Ana daquele jeito.  Na mesa, uma água com gás, um copo vazio, celular e vários pertences de Ana jogados, bloco de notas, canetas. Ela sentou-se e sentiu familiar a toda aquela situação de um jeito que nunca imaginou sentir antes.

Por incrível que pareça as duas não tocaram no assunto banco e investimentos. O foco da conversa foi outro, livros, música, trabalho, o que queriam da vida, suas perspectivas e assim a conversa rolava solta. Pediram vinho tinto suave, Luiza pensou consigo que as duas tinham bastante coisa em comum. Elas riam, conversavam e cada minuto que passava a conversa fluía de uma magnitude indescritível. Elas se sentiam felizes por encontrar uma a outra e o álcool já perfumava o hálito das duas.

Depois de algumas horas, perceberam que o bar já estava fechando, pagaram a conta e saíram daquele lugar. Luiza agradeceu por ser sexta-feira e por isso poderia ficar até mais tarde na rua naquela noite de agosto. Elas se sentiam felizes, talvez Luiza não teria consciência de tudo que estava por vir desde aquele encontro de olhares em um dia comum de trabalho.

As duas andavam lado a lado pela noite escura, a cidade estava vazia, e o vento esvaziava as folhas das árvores. De repente Luiza fala para Ana que precisa ir, já está muito tarde. Ana olha com aquele olhar doce e Luiza não se contém, as duas se abraçam na despedida e o abraço dura mais que deveria. Ana sente os dedos de Luiza em suas costas, o afago que esperou por toda a vida.  

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.

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