sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Cuide sempre de você


O ano está terminando, e você o que fez de bom no ano que passou? Seus objetivos foram alcançados? Metas e aquele blá blá todo. Me responda com sinceridade. Você cuidou de você de verdade? Ou ficou cuidando dos amigos, da família e esqueceu-se da pessoa mais importante da sua vida. Pode confessar que esse ano você se comportou como aquela poltrona antiga no canto da sala, ficou no mesmo lugar o ano todo e nada de novo aconteceu com ela.  O ser humano é incrível e eu admiro cada pessoa nova que conheço e aprendo muito com as relações. Aprendo mesmo de verdade, e isso de uma maneira geral é bom, sabe.

Eu tenho certeza que você ficou pensando no que os outros irão dizer, irão pensar sobre suas escolhas e a gente fica igual criança no fim da festa, chata e emburrada com o rosto todo vermelho de tanto chorar e sentido pena de si mesmo. Não estou aqui para julgar e nem defender ninguém- quem sou eu para fazer isso. Sabe, que aceitar é um processo doloroso, não se importar com o que as pessoas vão pensar de você é outro fator que temos que aprender.  Na realidade- que se danem! Somos livres, de alma, espirito e coração e não tem coisa mais incrível que é ser você.

Seja sincera com você e todas aquelas escolhas que tentamos fazer todo ano e vamos deixando para lá. Inevitavelmente crescer e mudar dói, dói muito, no entanto acredite que no fim tudo se faz no curso mais curto e necessário para que no fim tudo se encaixe perfeitamente. Cuide de você, das suas sobras e cacos, junte o que precisa para se manter em pé. E o mais importante, principalmente descarte as tralhas que atrapalha a sua vida para seguir em frente. Não mexa e viva de passado. O nome já te dá uma ideia de que passado é para se deixar lá trás. Se você tem dificuldade, guarde ele dentro de uma gaveta tranque com a chave e jogue fora.

Seja amável, descarte tudo que te faça infeliz, às vezes se cobrar menos é um bom começo. Seja leve, paciente. Tenha menos medo e aposte em arriscar-se de vez em quando. A vida é mais do que você pode esperar- acredite! E o mais imprescindível, invista em você, nos seus sonhos, conquistas e no que você quer levar para a sua vida. Nunca é tarde para um novo recomeço. E uma última coisa: A pessoa mais importante da sua vida sempre será você, Nunca se esqueça disso.  Isso pode parecer narcisismo, só que não é! Você sempre será o livro mais importante da sua estante. Cuide-se!


Texto publicado originalmente no jornal: A Novidade.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

A moça do café (Final)



Amanda se aprontou e chegando no Local marcado estava cheio de gente, muitas pessoas vieram prestigia-lo. Ela entrou e não o viu, então resolveu olhar as fotografias. De repente uma das imagens lhe chama muito atenção, uma moça sentada em algum café com uma xícara na mão e olhando uma revista de moda, Amanda sorriu por dentro ao ver a sua própria imagem naquela exposição. De repente uma mão toca seu ombro, ela se vira e vê Lucas com um sorriso no rosto. Eles se abraçam, um abraço um pouco tímido, desajeitado. Ela fala baixinho: Obrigada.

Os dois se afastam e ela lhe parabeniza pela exposição e as fotografias lindas. Os dois ficam andando pela exposição e comentando as fotos que Lucas fotografou em diversos lugares de pessoas desconhecidas. Amanda fala sem parar se empolgando a cada foto. De vez em quando ele pede licença para falar com alguém ou despedir-se. O lugar vai ficando vazio. Até que Lucas a convida para jantar em algum lugar. Ela fala que já é tarde. Ele insiste e diz que irá se surpreender. Então, aceita com um sorriso nos lábios. Ele pega na mão dela e saem correndo até o estacionamento onde o carro dele está parado. Saem daquele lugar felizes.

Amanda pensa consigo que ele deve ser muito clássico. Até que quando ele para em trailer de foodtruck de cachorro quente. Ele abre a porta do carro com um sorriso sarcástico no rosto e fala: tenho certeza que você vai adorar. Amanda responde com outro sorriso: tenho certeza que sim. Os dois pedem e esperam sentados no carro de Lucas, enquanto ele coloca uma música no som do carro. Os dois conversam sobre seus gostos musicais. De repente eles param de falar, os olhos se encaram na noite escura. Ele se aproxima de Amanda, e ela respira fundo, Lucas toca sua mão no rosto daquela menina tão bonita, ela fecha os olhos e os dois se beijam. Depois de tanto tempo, tanta espera. Ele o abraça e fala que não quer perde-la mais de vista, mesmo com a distância. Ela retribui o abraço o mais forte que pode e o responde dizendo que também não quer ficar longe de Lucas.


O cachorro quente fica pronto, os dois comem, riem e conversam como se fossem namorados de anos. Eles se surpreendem com a sincronicidade e ficam felizes ao mesmo tempo. A noite está linda, o cachorro quente uma delícia, Amanda fala. Lucas completa: tudo a favor de um romance que começou em um café de um aeroporto. Eu me apaixonei pela moça do café. Amanda fala sorrindo: mesmo sem eu saber. Os dois ficam ali naquele lugar contemplando os primeiros minutos, horas de uma história que terá muito para contar ainda.

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.

sábado, 10 de dezembro de 2016

A moça do café (Parte II)


Lucas chegou ao Chile muito empolgado com tudo o que seus olhos conseguiram fotografar pelos vidros do táxi do aeroporto até o Hotel em que se hospedará. Instantaneamente se lembrava daquela imagem que viu no café do aeroporto, do sol entrando pela janela, enquanto ela segurava uma xícara de café e folheava alguma revista de moda, uma imagem extremamente genuína, porém de tirar o folego de qualquer fotógrafo.
Lucas fotografou tudo o que imaginou para aquela viagem, também estava separando umas imagens para a exposição que iria fazer em Porto Alegre, onde o tema era: anônimos.

 E ela a moça do café também fez tudo o que queria naquela viagem, mas seu cérebro sempre via a imagem de Lucas, o sorriso e os olhos verdes que ela não tirou mais da fotografia da sua memória. Ela trouxe tênis, sapatos e roupas esportistas. Tirou fotos, registrou alguns lugares incríveis e até compartilhou pelas redes sociais.

Quinze dias se passaram e então, o celular de Lucas toca e é ela, Amanda. Os dois se cumprimentam e Lucas lembrou que não sabia seu nome, ou não lembrava. Amanda falou que já fizera o que queria fazer e já visitara alguns lugares onde queria conhecer, Lucas sorriu por dentro imaginando como aquela garota de saltos altos conseguiu sobreviver naquele lugar. 
 Os dois marcaram um café no fim da tarde em algum lugar desconhecido, quem sabe ficaria na lembrança dos mesmos.

Eles foram o mais joviais possíveis, e a conversa rolou solta como se fossem dois amigos de infância, falaram das expectativas sobre a vida, carreira, família. Falaram mais da vida de cada um, seus gostos sobre música, filmes e fotografia. Então Lucas a convidou para a sua exposição em Porto Alegre no meio de novembro, ela agradeceu o convite e disse que iria comparecer. Os dois se despediram e foram para seus respectivos Hotéis. Lucas pensou muito em Amanda e vice-versa.

 Amanda ficou mais duas semanas no Chile e voltou para o Brasil. ele  voltou na mesma semana do encontro no café. Quando Amanda chegou em casa da viagem viu uma cesta de flores do campo na mesa e um convite que a pareceu familiar, uma das amigas falou que as flores chegaram de manhã cedo. Ela olhou atentamente e viu que o convite era de Lucas, onde ele também agradecia pela companhia no café naquele fim de tarde com luzes douradas no Chile. 

Os dias se passaram e a noite do grande dia para Lucas chegou, sua primeira exposição. Amanda  aprontou-se e chegando no local marcado estava cheio de gente, muitas pessoas vieram prestigia-lo. Ela entrou e não o viu, então resolveu olhar as fotografias. De repente, uma das imagens lhe chama muita atenção, uma moça sentada em algum café com uma xícara na mão e olhando uma revista de moda, Amanda sorriu por dentro ao ver a sua própria imagem naquela exposição.

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade. 

domingo, 4 de dezembro de 2016

A moça do café



Ela sentada em um café com uma mala gigante ao seu lado, tomando seu café expresso quente e folheando alguma revista de moda. Usava saia e meias pretas, sapatos de salto alto, unhas vermelhas e a maquiagem pesada, que além da doçura e da juventude por trás de toda aquela maquiagem, existia sim uma personalidade forte, porém o amor transbordava até os poros. Ela estava em algum café de algum aeroporto e aquela mala significava alguma coisa. Ela iria conhecer algum lugar e ficar por um tempo longo.

O batom vermelho e a pele branca ganhavam um contraste contra toda aquela luz que entrava pela janela lateral do ambiente. Quando ele a viu naquela posição logo pensou em uma foto. Fotografo e também viajante. Tirou a máquina do estojo e sem que ela o percebesse tirou algumas fotos, logo guardou o equipamento, terminou seu café e saiu. O seu voo logo iria sair.

Quando ele entra no avião e procura seu lugar para sentar-se tem uma surpresa imediata. Quem está sentada ao lado do seu lugar reservado? A moça do café. Ele se apresenta como Lucas e ela como Renata e a conversa para por aí. Ela ainda está com a revista de moda nas mãos. Lucas pega um livro sobre fotografia e começa a ler, pois terão algumas horas de voo.

Os dois lado a lado, leram, assistiram filme e até ouviram música. Até um certo momento Lucas começou a puxar assunto e perguntou o que ela iria fazer no Chile? Ela respondeu que queria  conhecer a cidade de Santiago.  Ele pensou que com aquela roupa e aqueles saltos seria um contraste naquela cidade. Ela também perguntou o que ele pretendia fazer no Chile. Ele educadamente respondeu que era fotógrafo e seu sonho era fotografar as paisagens e cidades do Chile, começando por Santiago. Dali em diante os dois começaram a conversar mais, sobre seus sonhos, objetivos de vida, trocaram até os números de telefone.

Ele descobriu que ela estava no final da Faculdade do curso de Design, morava com duas amigas em Porto Alegre e tinha um gato chamado Alfred. Que nome pensou consigo mesmo e sorriu por dentro.  Ela gostou do que descobriu sobre ele, fotógrafo independente, morava em Novo Hamburgo sozinho e iria fazer uma exposição com suas fotografias em Porto Alegre. Quando menos esperaram o avião pousou e seus corações também, porém de uma maneira diferente. Se despediram e Lucas falou que iria ligar para conversar mais, quem sabe marcar um café. Cada um seguiu o seu caminho sem olhar para trás, mas com os corações cheios de esperanças.

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.


sábado, 3 de dezembro de 2016

Uma carta para a cadeirante


Eu não sei se você me conhece, eu sou a malformação e vivo em você pelo menos alguns anos. Recebi aquela carta há algumas semanas atrás e fiquei comovida com tanta sinceridade. Posso dizer que você, cadeirante foi leve, harmoniosa e ao mesmo tempo doce.

Alguns momentos na sua vida devo confessar que fui teimosa, dura e ao mesmo tempo fiz você ter sentimentos não muito agradáveis por mim. Eu te admiro, não só por ter passado por essa malformação com sabedoria e resiliência. Você foi testada muitas vezes por mim. Caiu, e levantou-se facilmente como se nada tivesse acontecido. Seu corpo está cheio de cicatrizes e marcas que eu a deixei para que nunca esqueça dos tombos e arranhões que te fizeram crescer muito, porém não de tamanho.

Alguns anos se passaram e hoje minhas marcas estão em uma outra amplitude. Tenho certeza que lá no fundo da sua alma você tem algum sentimento por mim. Você teve experiências incríveis, confesse! Cresceu de um jeito um pouco maluquinha com seus romances água com açúcar. Fez tatuagens, gosta de rock, é apaixonada por chocolate e teve alguns namorados legais, sei de tudo isso e muito mais. Sei que odiava suas pernas, foi culpa minha por ter sido tão agressiva com elas.

Sabe de uma coisa cadeirante, hoje você luta por você, faz fisioterapia, musculação e se sente realizada. É bonito te ver lutando contra mime todos os estragos que fiz na sua vida. Me sinto como se fosse sua velha amiga. Depois de anos aparece, e o abraço continua o mesmo. Vou sentar, pois quero a chá que você me prometeu na outra carta. Prazer, malformação na coluna.

Texto impresso originalmente no jornal: A Novidade. 



sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Para Marina (Parte 2)





Ela inspira o ar da madrugada pensando no atordoamento que o homem a sua frente lhe causou. Ele lhe pergunta: Quem é você? Marina franze a testa e logo lhe responde. Sou o que você vê e também o que você desconhece. Sou tudo e nada e ao mesmo tempo um emaranhado de perguntas sem respostas. Ele fala olhando para seus olhos cor de mel que ela, a moça dos pés descalços em uma madrugada vazia e pede o número do seu telefone. Marina sai correndo e diz gritando: Vamos ver se temos a sorte de nos reencontrar novamente.

Ela chega em casa e se joga no sofá, seu estado estava um pouco irreconhecível daquela Marina certinha. Pés sujos, vestido suado, e um pouco risonha demais. Ela adormeceu naquele sofá com o coração cheio de esperança por aqueles olhos azuis cor de mar. No dia seguinte se sentiu um pouco culpada por não entregar o número do seu telefone para o homem que nem lembrava direito sua fisionomia, pois estava escuro demais. E a semana correu como todas as outras.

No outro lado da cidade, Luiz pensava muito em Marina, ele também era um arquiteto de sucesso, e tinha uma empresa pequena destinada a construções que respeitavam as causas ambientais. Ele procurou pela internet, no entanto não sabia nem seu nome, o que fazia, qual seria seus sonhos. Ele se sentia um pouco perdido como se estivesse no meio de uma floresta. Até que estava lendo alguns artigos em uma revista, e logo percebe a foto daquela moça descalça da madrugada, só que muito certinha e compenetrada nas suas obrigações como arquiteta. Ele riu por dentro em saber que os dois eram colegas de trabalho.

Era sexta-feira e ele decidiu ficar na frente do bar, ela devia frequentar algum lugar por perto. E não deu outra, ele ficou do outro lado da rua e viu a moça de cabelos dourados entrar. Ele a seguiu sentou-se em uma mesa sozinho e pediu uma cerveja, Marina estava sozinha naquele dia, quando olha para o lado reconhece o azul daqueles olhos cor de mar. Ele retribui o olhar e fala: Oi Moça descalça da madrugada. Ela sorri. Os dois começam a rir descontroladamente, ele pega sua cerveja e senta na mesa de Marina.


Marina e Luiz talvez nunca tivessem se esbarrado se não fosse aquela noite e os sonhos que ela pensara na hora de fechar os olhos. Destino? Sorte? Nunca se sabe quando o amor bate à porta, às vezes trancamos a porta, e muitas e muitas oportunidades se perdem por não admirar o que está em nossa volta. Amor, paixão, amizade, companheirismo é isso que nos leva a acreditar que Marina e Luiz tiveram uma história. Curta? Longa? Para sempre? Não se sabe. No entanto tenho certeza que foram felizes. 

Texto impresso originalmente no Jornal: A Novidade.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Para Marina

Ela saiu do bar com seus sapatos de salto agulha pelas mãos. Sentir o ar fresco da madrugada era o que recarregava todas as energias perdidas em uma semana cheia. Era arquiteta de uma grande empresa, fazia especialização em uma universidade de renome. Estava sozinha depois de quase dez anos de namoro. Podia ser engraçada se não fosse surpreendente triste. Ela o amava muito de tal maneira que o mesmo nunca iria poder corresponde-la. Fazia quase um ano que Marina estava sozinha e todas as sextas-feiras saia para esse bar com as amigas.

Era um bar agradável com coquetéis. Bebidas com álcool e sem. No começo ela, Marina só pedia suco de abacaxi, sempre foi certinha com todas as coisas e acontecimentos de sua vida. Mas de uma hora para outra ela conseguiu um equilíbrio entre sucos de abacaxi e algumas margueritas. Marina queria esquece-lo e com o tempo as coisas estavam entrando no lugar. Tinha dois sobrinhos que sempre visitava aos fins de semana. O trabalho tomava bastante tempo de sua vida. Ela amava o que fazia e isso era muito reconfortante para o coração da menina solitária.

Vivia sozinha com seu gato chamado Marshmallow em um apartamento médio no segundo andar, gostava da vista da sacada. Prédios e mais prédios, tudo que uma arquiteta almejava. Só que seu coração vivia sozinho demais, faz muito tempo que perdera a emoção de viver. Ela sempre pensava consigo que estava na hora de dar um rumo novo para a sua vida. Por enquanto amorosa. Marina decidiu frequentar lugares que gostava. Museus sobre arquitetura e também sobre arte, cafés, livrarias. Conheceu algumas pessoas até que um pouco interessante, no entanto nada que mexesse novamente com ela.


Na semana seguinte olhando sua agenda, viu que sua semana iria ser cheia. Ela pensou, fechou os olhos e falou: Vamos lá! A semana passou voando e na sexta-feira novamente lá estava ela conversando e rindo com as amigas no mesmo bar de sempre tomando sua marguerita. Ela estava cansada e disse que iria embora mais cedo. Tirou os sapatos salto agulha e lá estava ela sentindo o ar da madrugada com seu coração vazio e os pés descalços no chão. Até que uma voz interrompe sua contemplação de olhos fechados ela os arregala de uma tal maneira que   a voz logo lhe fala: Desculpe interrompe-la. É que achei bonita você inspirando o ar da madrugada. Ela responde que é o que lhe carrega as energias de uma semana difícil. No escuro ela olha diretamente para aqueles olhos azuis e sente um atordoamento que há muito tempo, não fazia seu coração pulsar naquele ritmo novamente. 

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade. 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Do verbo amar




O que é amar para você? Algum dia todos nós já nos fizemos essa pergunta. Talvez eu já tenha algum texto que fale sobre isso. O amor está refletido em todas as coisas que olhamos e tocamos. Ele transcende nossa alma, nosso coração e até nossa própria vontade de sobrevivência aqui na terra.
O amor é algo que não podemos traduzir em palavras e muito menos podemos tocar, apenas sentir. Você pode descrever uma cadeira, do que é feita, qual material leva, que cor ela tem, se existe almofadas no assento e assim vai. O amor é simplesmente diferente, você não consegue enxergar de uma maneira tão concreta.

Sentir é o verbo usado para saber o que é o amor. Às vezes nós, humanos ficamos indecisos no ato de sentir. Será que o que estamos sentindo por aquela pessoa é amor mesmo? Ou é nosso cérebro aprontando com o nosso coração. Dizem que esse sentimento não tem explicação. Bom, até aí tudo bem. Então concluímos que quando não sabemos o que sentimos pode ser denominado amor. Só que o amor pode aparecer de várias formas. Há o amor entre amigos, amantes, apaixonados e aquele amor que fica para sempre. Como todo sentimento há os altos e baixos, só que se for verdadeiro ele passa, se arrasta e volta a ficar de pé durante qualquer crise. Amor é amor aqui, ali, e em qualquer lugar.

Muitas pessoas sentem dificuldades de pronunciar essa palavra, sentem que estão se comprometendo com o próximo, no entanto isso é uma grande bobagem. Pode existir um amor curto, porém ele vale a pena a cada segundo que se é vivido. Muitas pessoas denominam que: “não deu certo. ” Eu, denomino isso de outra perspectiva, deu certo sim, no tempo que eles foram felizes, no tempo deles. 

O verbo amar no tempo do romantismo é um dos momentos mais maravilhosos das nossas vidas e quando dura por um tempo necessário que seja bom para os dois, então a fórmula foi acertada. Você pode até descordar com essa reles cadeirante e seu jeito louco de escrever. Destranque as correntes do medo, viver com medo de perder não é legal. Ame o outro e de todos os tormentos que ele te trás. Mesmo na simplicidade o amor se faz presente, melhores, maiores momentos para descobrir esse sentimento tão indecifrável que é o verbo amar.

Publicado originalmente no Jornal: A Novidade

Uma carta para a malformação




Oi malformação. Tudo bem? Como tem passado? Espero que bem. Bom, não sei se você sabe, no entanto você está em mim faz alguns anos. Eu não te odeio, e também não te amo. Na verdade, passei por vários momentos marcantes na minha vida com você. Consegui andar depois dos três anos e minha infância foi relativamente boa. Corri, subi escadas até cansar e em alguns momentos você foi relevante comigo. Meus joelhos viviam ralados e hoje levo a cicatriz de tanto cair por você.

Você me fez crescer não de tamanho, mas de ser apenas eu e não olhar para trás. Nas brincadeiras você me fez ser sempre “café com leite” e até que diverti. Brinquei, fui ao mar e senti a areia entre os dedos dos pés. Amei, namorei, decepcionei e me decepcionaram, chorei, sorri, cresci e a vida seguiu.  Às vezes você foi sensível, outras vezes muito relutante e com o tempo acostumei com a vida adaptável que eu enfrentaria todo dia.

Nem eu muito menos nós somos culpadas dessa trajetória que o destino acertou. Hoje posso dizer que você, malformação é quase uma amiga quem sabe até querida, daquelas que tomam chá em uma tarde chuvosa. Não me veria de outra maneira e nem saberia como enfrentar isso. Talvez se fosse de outra forma hoje nem estaria escrevendo esse texto. Claro que a gente sente lá no fundo do coração uma ponta de esperança, de poder um dia qualquer como todos os outros levantar com as nossas próprias pernas e seguir, só que não é assim tão simples.


No entanto me reinvento todo dia e nas dificuldades encontro e me reencontro e você já faz parte disso, todos os dias. Sabe de uma coisa malformação pode sentar-se e ficar à vontade pois o chá já está sendo servido. 

Publicado originalmente no Jornal: A Novidade

sábado, 8 de outubro de 2016

Como eu era antes de você






Quando você conhece uma pessoa que faz seu mundo girar em 180 graus mesmo não percebendo você muda. Muda de razão, de emoção, o sentimentalismo está sempre tão à flor da pele que nós nem percebemos o tamanho da mudança em nosso ser. Não conseguiremos decifrar a garota antes do outro que chegou de malas prontas e coração aberto.  Se você me desse uma linha tênue para que as duas pessoas de você se encontrasse em algum lugar distante talvez, elas não se reconheceriam sendo a mesma pessoa, no entanto com personalidades, pensamentos, sonhos tão diferentes.

Ninguém é feliz sozinho – isso é certo. Somos humanos de carne e osso e por isso a pluralidade persiste em nos perseguir até a eternidade. Temos a família, o ciclo social, os amigos, porém queremos algo a mais. Aquele alguém que vamos olhar nos olhos e nos sentir vivas novamente com vontade de voar. Sabe de uma coisa? Voar pode parecer perigoso, mas se entrelaçar bem as mãos e segurar bem forte o medo passa, então percebemos o quão felizes somos quando estamos em pares, principalmente falando em romantismo.

Você pode escolher o melhor, o mais bonito, atlético, o mais inteligente, que gosta de rock e assiste filmes cults. Nada disso vai delimitar a sua escolha, ele vem sem manual de instruções e também pode te achar um pouco esquisita, pois você sempre escolhe a cor dos sapatos que não combina com a roupa que está usando. Uma coisa eu te garanto -  o coração dele é leve e cheio de esperança. Se ele te escolheu garota, acredite e não pense que às vezes ele pode parecer um pouco estranho. Ele trabalha duro, e sempre no final da noite te liga para apenas te desejar boa noite. Seja mais compreensiva com você mesma e com as outras pessoas que estão ao seu redor.  Agora voe, vai sem medo e se entregue.

Antes dele você era uma chata enigmática e gostava das mesmas coisas. Antes dele você não arriscava ser mais compreensiva. Antes dele você não ousava escutar uma música de outro estilo. Não desenhava e nem se arriscava em decisões que poderiam te machucar. No real, você não parava de olhar para o próprio umbigo e não ousava olhar para o lado. Olhe para o horizonte e veja quantas coisas existem ainda para experimentar. Depois dele você mudou de status, de vida, e o magnetismo se fez. Depois dele você é outra pessoa e posso até arriscar escrever que um pouco melhor. Voe, não tenha medo, permita-se, divirta-se, pois, as melhores histórias acontecem por acaso.

 Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade. 

A Mudança (Parte II)


Renato estava se adaptando a nova vida, o republica, os amigos e a faculdade e claro que não parava de pensar em Camila. A semana passou voando e encontrou Camila algumas vezes pelos corredores da faculdade os dois trocaram alguns sorrisos e também algumas vezes se cumprimentaram, porém não passou disso. Nas aulas que tinham em comum Camila sempre sentara longe de Renato.

Renato foi seguindo sua vida normalmente, até conseguiu um emprego de atendente em um café, assim podia ajudar os pais no dinheiro para os estudos. Fez muitos amigos e às vezes no final de semana se reuniam e saiam em turma. Uma vez ou outra ia para a cidade vizinha, onde os pais moravam para visita-los e assim a vida nova de Renato seguia. Estava muito empolgado com a faculdade e toda essa mudança que acontecera em sua vida, no entanto uma coisa que não saia de sua cabeça foi o dia que Camila sentou-se ao seu lado. As vezes ele podia sentir o perfume dela pelas ruas onde passava.

Um dia comum, Renato foi para a faculdade de manhã e à tarde seguiu para seu emprego, estava um dia lindo de sol, a primavera já começava a dar seus sinais, as árvores estavam cheias de flores, variadas cores e perfumes. Renato se sentia feliz por tudo aquilo, mas não sabia porquê. No final da tarde Camila entrou no café, foi até seu encontro e pediu um café expresso e um pedaço de bolo de chocolate. Os dois trocaram algumas palavras. Renato criou coragem, respirou fundo e perguntou a ela se os dois podiam sair qualquer dia desses. Camila sorriu e disse que sim. Entregou-lhe um papel com o número do telefone e falou que qualquer coisa só ligar para ela.

Na semana seguinte marcaram em um sábado sair à noite em uma casa de chá na cidade, ideia de Camila.  Quando Camila chegou, estava surpreendentemente linda e ele a esperava. Os dois conversaram a noite inteira. Camila confessou que lembrava do primeiro dia que os dois sentaram lado a lado na faculdade, pensou que Renato não achara ela uma pessoa legal. Ela falou que sempre foi muito insegura, por isso escolheu a psicologia para trabalhar isso dentro dela. Camila se sentia feliz e seu riso era fácil como nunca foi. Encontrou em Renato a segurança que precisava dentro daquela menina sempre tão insegura. Ela o admirava de um jeito incomum.

Os dias foram passando e os dois se encontravam quase todos os fins de semana. Renato queria falar para Camila que a amava, no entanto estava receoso e não queria perder a companhia dela, que era sempre muito divertida. Então teve uma ideia de mandar flores do campo e escrever o que estava sentindo. Quando recebeu as flores, ela agradeceu por ele ter tomado a iniciativa, pois ela não saberia como se manifestar. No outro dia eles iriam ter aula juntos na faculdade e Renato estava ansioso pela resposta de Camila. Eles se encontram no corredor da universidade, Camila se abaixa para alcançar os braços de Renato e o abraça forte e fala sim. Ela entona várias vezes: sim, sim, sim, sim.

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.


quinta-feira, 29 de setembro de 2016

A Mudança

Renato acabou de mudar-se para uma republica onde irá cursar a faculdade de Psicologia, não conhece nada da cidade nova. Cadeirante faz 5 anos resolveu mudar toda sua história e sua vida. Queria uma vida tranquila, porém longe dos olhares dos pais, ele sabia que a superproteção não é levianamente, porem o mesmo não se sentia bem com aquela proteção toda em cima dele.

Quando chega na nova república, achou bem legal, os estudantes o receberam muito bem, e também era adaptada do jeito que ele tinha pesquisado pela internet, foi difícil encontrar algum lugar para ficar com acessibilidade e ao mesmo tempo com um preço acessível para seu bolso. No mesmo dia os estudantes saíram para beber e comemorar a chegada de dois novos amigos. Foram em um lugar, onde as mesas ficavam nas calçadas. Eles estavam felizes, principalmente Renato com a sua nova vida. Ficaram até meia noite no bar, bebendo, conversando e rindo.

No outro dia Renato levantou cedo, arrumou suas coisas e seguiu para a faculdade antes dos demais, queria chegar cedo e conhecer o ambiente. Renato também mantia uma página no facebook falando das suas andanças como cadeirante e agora mais do que nunca queria documentar sua vida de cadeirante morando em uma república e frequentando a faculdade. Chegando na Universidade se surpreendeu com o tamanho da mesma, localizada em um prédio muito antigo, com janelas arredondadas e venezianas. Mesmo sendo uma construção antiga havia rampas por todos os lados, banheiros acessíveis e caminhos destinados para cadeirantes ou pessoas com mobilidade reduzida.

Tudo aquilo que ele via parecia um sonho se realizando na cabeça do mesmo, já que sua maior dificuldade na sua pequena cidade era sempre o acesso que era quase zero. Passou antes pela biblioteca e checou quase todos os livros que precisava. Entrou na sala destinada que já estava enchendo de alunos e ficou esperando até que o professor chegou e começou a explicar sobre a introdução da Psicologia. Ele, como todo bom aluno estava super interessado no conteúdo e até já estava marcando alguns tópicos para depois pesquisar melhor. Só que uma voz interrompeu sua atenção da aula.
Licença Professor. Desculpe o atraso.
Pode entrar e sente-se.

A moça veio em direção a ele e senta-se ao seu lado, ela se apresentou como Camila, os dois trocaram algumas palavras e continuaram a prestar atenção na aula. Renato veio para a casa um pouco atordoado e seus pensamentos estavam direcionados a Camila. Não parava de pensar na moça dos olhos acinzentados e sorriso largo.

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade. 


terça-feira, 13 de setembro de 2016

Dois




Estou aqui, enquanto escrevo esse texto para vocês degustando um pedaço de chocolate meio amargo. Você pode me perguntar porque escolhi o meio amargo? Eu lhe respondo que sempre preferimos um equilíbrio. Nesse caso é no equilíbrio que vamos vivendo, sentindo, realizando, as emoções, os sentimentos, os motivos.

Você pode preferir o amor de todas as estações possíveis, e pode ter certeza que até o amor tem personalidade. Vai desde o mais atormentado, e passa pelo equilibrado chegando no calmo. A gente passa por muitas experiências na vida, tanto amorosa, quanto familiar até profissional. Em todos os casos o amor está presente no nosso cotidiano. No entanto, o amor entre duas pessoas é o que mais nos afeta drasticamente. Passamos por momentos que nunca pensamos presenciar na vida, sofremos, amamos e aprendemos que quando o amor chega de verdade nos muda completamente.

Eu prefiro os calmos e sem sucesso com muito amor no coração, daqueles que tem braços compridos e você cabe dentro dele em um dia difícil. Prefiro os olhos calmos e profundos, daqueles que existe uma sinceridade e percebe-se que a verdade daquele olhar que vai te acalmar em dias de tormentas. Prefiro os de sorrisos largos e riso frouxo, vozes que ficam pela casa, o cheiro que fica impregnado nos lugares mais inacessíveis. Prefiro aquele que divide uma pizza em um dia mudança, onde as taças estão empacotadas e o vinho vai parar dentro das primeiras canecas encontradas nas caixas da mudança.


Prefiro a casa quase vazia, onde os móveis vão tomando o lugar da vida dos dois, prefiro aquele sorriso e a música ao fundo daquele lugar que agora irá se tornar plural. Não se compare, não sofra antecipadamente, tudo chega na hora exata das horas e o tempo não falha. E no dia marcado quando for dormir e saber que no dia seguinte o amor ainda estará do seu lado. Você vai sentir paz no coração, tranquilidade e o equilíbrio de ser dois e não apenas um. 

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.

O Improvável (Final)

Depois do braço que Ana e Luiza trocaram as duas sentiram que não poderiam negar o que elas estavam sentindo naquele momento. Ana sentiu o coração de Luiza disparar enquanto as duas trocavam os afagos mais importantes das suas vidas. Nada naquele momento importava, as pessoas ao redor que passavam e admiravam as duas meninas, a lua que compactuava com aquela emoção, as estrelas que brilhavam mais naquela noite em que seus corações se apaixonaram.
Luiza sentiu o cheiro de álcool que Ana exalava e falava para ela não ir, pois era noite de sexta e ela poderia ficar mais para fazerem alguma coisa juntas.  Luiza concordou em ficar e as duas saíram pelas ruas da cidade escura, embriagadas e felizes. Não pensavam em mais nada só ficar na companhia uma da outra. 

Procuraram algum bar aberto naquela cidade pequena que já passava da meia noite, não encontraram nada. As duas estavam famintas e o efeito do álcool estava indo embora.
Encontraram um food truck que preparava um cachorro quente com um molho especial. Sentaram-se em uma mesa disposta e começaram a conversar com mais seriedade. Se deliciaram com a comida. Ana confessou que fazia muito tempo que não se sentira tão feliz ao lado de alguém. Entre vinhos e cachorro quentes, coisas simples, porém importantes ao lado de Luiza. Luiza sorriu e seus olhos encheram de lágrimas sinceras, que também confessou que jamais imaginara se sentir daquele jeito ao lado de Ana.

Ana se comoveu com as palavras de Luiza e sabia que ela sempre foi uma menina fechada para o mundo, para as coisas da vida e aquelas palavras tocou o coração de Ana de um jeito simplesmente atormentador para o lado bom. Ana enxugou as lágrimas que escorriam pelo rosto de Luiza e a mesma segurou a mão de Ana e a beija em um gesto de carinho. Ana fala que deseja ver Luiza mais vezes, na verdade todos os dias e as duas gargalham e a noite já se transformou em dia.


Elas saem andando pelas ruas vazias com as mãos entrelaçadas, o sol aparece e aquece o amor que estavam sentindo naquele momento. Elas se sentem realizadas, os sorrisos entregam o melhor presente que a vida lhes trouxe: O amor. Ninguém duvida que foram muito felizes, compraram uma casa com janelas brancas e um jardim florido. Anos mais tarde Luiza deixou seu emprego no banco e escreveu seu próprio romance, dizem que até hoje continua escrevendo olhando as roseiras brancas do seu jardim. Ana fez faculdade de moda e se dedica a desenhar roupas para pessoas com deficiência. As duas se casaram em uma tarde de verão e até adotaram uma menina que leva o nome de Laura.  E você, ainda duvida do amor entre essas duas? Elas mandam notícias e incentivam a nunca desistirem do que você realmente acredita. O amor nos muda, move o mundo em que vivemos. Acredite sempre! 

Texto impresso originalmente no Jornal: A Novidade. 

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

O Improvável (Parte II)



Mesmo ainda não lendo uma frase do livro: o invisível, e o telefone insistia em tocar.  Luiza pega o telefone e coloca no seu ouvido e fala:
 - Alô! Do outro lado ouve uma voz suave e pausada pronunciando o seu nome por inteiro que quase ninguém a chamava assim, somente sua mãe. Maria Luiza é a Ana. Lembra de mim?
-Sim, claro.
-Então, estava pensando que podíamos sair para tomarmos alguma coisa e conversar sobre as aplicações que quero fazer. Você poderia me indicar qual seria a melhor, lucros e valores.
Luiza pensa consigo que Ana foi bastante perspicaz com aquela desculpa, mais mesmo assim aceita.

As duas marcaram de se ver em um bar perto da casa de Luiza, ficava duas quadras dali. Ela se arruma com a primeira roupa que encontra no seu armário, Luiza nunca foi de muitas peças de roupas, ela gosta do básico, uma calça jeans camiseta florida e um tênis de alguma marca desconhecida, sempre os náuticos, levou um cardigã pois a noite estava fria.

Quando chegou ao bar Ana estava sentada a sua espera, ela estava magnifica em um vestido preto e jaqueta da mesma cor, Luiza se sentiu estranha em pensar em Ana daquele jeito.  Na mesa, uma água com gás, um copo vazio, celular e vários pertences de Ana jogados, bloco de notas, canetas. Ela sentou-se e sentiu familiar a toda aquela situação de um jeito que nunca imaginou sentir antes.

Por incrível que pareça as duas não tocaram no assunto banco e investimentos. O foco da conversa foi outro, livros, música, trabalho, o que queriam da vida, suas perspectivas e assim a conversa rolava solta. Pediram vinho tinto suave, Luiza pensou consigo que as duas tinham bastante coisa em comum. Elas riam, conversavam e cada minuto que passava a conversa fluía de uma magnitude indescritível. Elas se sentiam felizes por encontrar uma a outra e o álcool já perfumava o hálito das duas.

Depois de algumas horas, perceberam que o bar já estava fechando, pagaram a conta e saíram daquele lugar. Luiza agradeceu por ser sexta-feira e por isso poderia ficar até mais tarde na rua naquela noite de agosto. Elas se sentiam felizes, talvez Luiza não teria consciência de tudo que estava por vir desde aquele encontro de olhares em um dia comum de trabalho.

As duas andavam lado a lado pela noite escura, a cidade estava vazia, e o vento esvaziava as folhas das árvores. De repente Luiza fala para Ana que precisa ir, já está muito tarde. Ana olha com aquele olhar doce e Luiza não se contém, as duas se abraçam na despedida e o abraço dura mais que deveria. Ana sente os dedos de Luiza em suas costas, o afago que esperou por toda a vida.  

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

O improvável


Luiza sempre foi muito solitária, gostava dos dias frios, dos livros, romances, qualquer um que estivesse ao seu alcance. Ficava horas e horas jogada no chão lendo, ela sempre foi do tipo de garota que entrava literalmente dentro do livro, se via em vários romances que lia e se apaixonava. Luiza, criara até algumas listas dos livros e personagens que ela admirara durante a sua vida de leitora.

Luiza não se importava com a vida aqui fora, tinha um emprego razoável em um banco. Gostava de ir ao cinema sozinha quando algum livro era adaptado para a telona. Gostava de ficar na última fileira do cinema, onde ninguém a encontrava ou incomodava. Ela vivia em um mundo apenas dela.
Só que Luiza não esperava que seu castelo de cartas montadas poderia cair em algum momento. Em uma quarta-feira cinzenta com chuva caindo naquela cidade grande, onde as pessoas corriam e os guardas chuvas faziam a cidade multicolorida. Ela estava ali sentada no caixa fazendo seu trabalho mecanicamente como todos os dias. Contas, boletos, depósitos tudo ao seu redor até que um bom dia de uma voz doce lhe chamou atenção.

Ela arregalou bem seus olhos verdes, e a encarou, a moça do outro lado do balcão pediu para que ela fizesse a transferência de uma quantia em dinheiro. Ela demorou a entender e a cair em si. A beleza de Ana Flor tomou conta da cabeça de Luiza, a mesma se sentiu incomodada com toda situação. Depois da troca de alguns olhares: Maria Flor lhe pediu seu número e disse que se desse algum problema com a transferência poderia lhe procurar. Ela não conseguiu nem pensar, quando percebeu já estava entregando o papel com o número do seu telefone para a moça.

Quando chegou em casa Luiza estava atordoada com tudo que acontecera naquela manhã. Ela nunca fora tão imprevisível assim, sempre pensara tanto nas suas ações, como poderia ter feito aquilo. Entregar seu número de telefone para uma estranha que nunca viu na vida. Ela sabia que alguma coisa muito forte estava por vir, estava com medo do que sentiu ao ver Ana naquela manhã. Sempre sonhou em encontrar um dos personagens de seus livros e agora a vida dera um susto nela. Luiza estava com muito medo, no entanto ela sentia uma emoção forte só de imaginar Ana.
Pegou uma taça, encheu com vinho tinto suave, sentou-se no chão e começou a folhear: O invisível de David Levithan e Andrea Cremer, quando chegou na página do primeiro capítulo o telefone toca e seu coração dispara.

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade 


segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O Desfecho



Os dois estavam em um dia comum, até que ele falou para ela que não era bem aquilo que queria para sua vida. Precisava pensar sobre o relacionamento longo dos dois e das coisas que o mesmo acreditava e almejava para sua vida. Ela se pós em lágrimas e não sabia mais o que dizer e fazer. Ele a abraçou forte e seus olhos estavam rasos, ela o olhou novamente e perguntou se era mesmo isso que desejava. Ele fez sim com a cabeça e os dois ficaram ali abraçados por um tempo, até que ele falou que precisava ir. E se foi.

Uma semana depois os objetos dele foram encaixotados, suas roupas, tudo e ela mandou entregar na casa dos pais dele. Ainda tinha a sua presença pela casa, o cheiro dele impregnava tudo, as lembranças eram recentes. Aquele apartamento foi escolhido pelos dois. Ela resolveu vender e comprar algo menor, mais a cara nova de sua nova vida.  Começou a fazer coisas que sempre deixara para seu último plano. Mas as lembranças de felicidade ao lado vinham e iam como flashes. Ela pensou consigo e prometeu que iria ser feliz, talvez de um jeito diferente do que imaginou um dia, no entanto ele não estaria mais em seus planos e essa seria sua nova realidade e a mesma tinha que adotar isso para seguir em frente.

Recomeçou a fazer yoga, e até se matriculou em um curso de fotografia que a mesma deixou para trás. Mudou de emprego e recomeçou a fazer uma especialização. Foi mais ao cinema, leu mais livros, ouviu suas músicas prediletas, e até compreendeu que ter sua própria companhia era agradável. Conheceu alguns caras de personalidades variadas, aprendeu ser menos exigente consigo mesma. Voltou até andar de bicicleta e sentir o vento batendo no rosto. Comprou um peixe para seu aquário que há anos vivia vazio. Estava vivendo do seu jeito, sem pensar na possibilidade do que iria acontecer amanhã.


Nessas andanças de aprender coisas novas, em um dia qualquer depois de alguns anos conheceu Augusto um homem simpático. Saíram algumas vezes como amigos, de pouco a pouco, Augusto ia a conquistando, ela sentira diferente com ele, depois de tantos caras, tantas tentativas frustradas. Ela não estava procurando mais ninguém, somente um livro em uma livraria. Ela reconheceu que Augusto fazia rir de uma maneira que nenhum outro a fez, ele a surpreendeu e quando se deu conta já estava apaixonada. Então ela escreveu em seu diário com letras grafais – que estava muito feliz e nunca imaginou que a felicidade iria transbordar seu pequeno coração. 

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.

domingo, 21 de agosto de 2016

Experiências



Experiências são resultados da nossa ousadia na vida, sem ter medo de seguir em frente. Toda experiência é válida seja ela boa ou má, assim nós humanos crescemos e nossa imaturidade fica cada dia mais longe do nosso convívio. Toda experiência faz bem para a alma e espírito, seja qualquer forma de vivenciar: amorosas, financeiras, pessoais, interpessoais e lá vai um emaranhado de vivências.

Às vezes nós temos medo de seguir em frente em alguma situação, pois uma das nossas experiências foi decepcionante. O medo faz parte de muitas situações em que iremos viver. Se tudo fosse flores, simplesmente a vida não teria graça. Temos que lutar para conquistar o que um dia almejamos e quando conseguimos ai sim, você vai sentir o coração leve e a alma flutuante.

Queríamos que a vida fosse como um eletro doméstico que compramos em uma loja, no começo não sabemos nada dele, pois lendo o manual e com o tempo tudo se torna prático e fácil. Só que a vida não vem com manual de instruções para podermos seguir. Cada um leva a vida da sua melhor  maneira possível, erramos aqui, acertamos ali e vamos seguindo em frente. Trancando nossas experiências boas em um pote de vidro vazio e soltando todas as que nos machucaram para que vento leve embora.

Não podemos julgar outra pessoa por suas decisões, cada um faz a sua história, o seu livro de lembranças, experiências, acontecimentos que irão levar para a vida inteira. Nós temos uma porcentagem de decisões que temos que tomar todos os dias e que podem provocar consequências em uma vida. No entanto, somos um amontoado de experiências que vivemos todos os dias, quanto mais melhor para podermos contarmos todas as histórias engraçadas, alegres e tristes independente de qualquer situação histórias são sempre histórias.



sexta-feira, 29 de julho de 2016

Reencontro de olhares






Depois daquela troca de olhares no metrô Olga e Carlos não conseguiram mais esquecer um do outro. Carlos imaginava o que Olga fazia e o que gostava, quais seriam seus sonhos, suas dúvidas. Sua cabeça estava cheia de perguntas que se um dia tivesse chance de reencontrá-la novamente seria bombardeada por elas. Já Olga não parava de pensar porque motivo aquele homem provocou tanta perturbação nela. O tempo estava passando depressa demais e os dois não tinham nenhuma notícia um do outro. Ela passou algumas madrugadas na frente do computador pesquisando pessoas nas redes sociais, no entanto seria quase impossível encontra-lo já que não sabia nem o nome dele.

Uma manhã de quarta – feira como outra qualquer ela saí cedo para o trabalho, e estava na plataforma reservada para cadeirante esperando o metrô com seus fones de ouvido ouvindo uma música qualquer. Carlos a avista e corre para alcançá-la, quando chega perto oferece ajuda, ela aceita, só que Olga ainda não visualizou o rosto de Carlos. Quando ela estaciona a cadeira de rodas no seu lugar reservado, coloca o cinto e vê o rosto dele seu coração dispara de tanta emoção. Ela agradece pela ajuda e os dois começam a conversar sobre as coisas corriqueiras do dia: tempo, seus nomes, onde trabalham e onde moram. Trocam números de telefones, assim não podem se perder mais um do outro. Foi sorte grande os dois estarem ali, lado a lado, naquela cidade grande, cheia de gente, de vidas, de caminhos. 

O dia passa e eles começam a trocar mensagens na hora de folga dos mesmos. Marcam um encontro a noite em um restaurante com acessibilidade é claro, já que Olga é cadeirante e Carlos é um homem muito sensível. Ele vai pegá-la depois o trabalho, tem alguma dificuldade em desmontar a cadeira e colocar no táxi, ela lhe dá as instruções e tudo acaba bem. Eles tomam vinho e comem massa e conversam e conversam....  Todos os assuntos possíveis entram naquela mesa, Carlos fala do seu sonho de uma casa com janelas grandes e flores amarelas nos jardins. Olga fala de sua pós-graduação e que não teve muitos relacionamentos, sua vida foi mais focada nos estudos. Depois de duas horas de muita conversa eles saem do restaurante, ele se oferece para empurrar sua cadeira, ela aceita com um sorriso no olhar. 

Os dois  resolvem andar um pouco pela noite, as luzes da cidade ainda acessas, bares, restaurantes, pessoas bebendo, sorrindo, gesticulando e os dois caminhando como uma sombra em uma noite de luar. Eles param em um parque, cheio de gente, crianças andando de skate, bicicletas por todos os lados. Carlos senta em um banco empoeirado e mal conservado para ficar da altura de Olga. Ele não para de olhar para aqueles olhos cor de mel, que nunca esquecera. Suas mãos tremem, ele alcança seu rosto e olha bem no fundo dos seus olhos, a meia luz do parque ajuda, ela fecha os olhos e se entrega - eles se beijam. 

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Do seu lado







Cada um em seus dias rotineiros, os dois trabalham no centro da cidade, José cursa direito, Fernanda filosofia. Moram no mesmo bairro, frequentam os mesmos lugares. Às vezes se esbarram pelas ruas, em algum cruzamento movimentado trocam olhares e meios sorrisos. Na faculdade estudam em setores diferentes, na biblioteca, na cantina sempre se encontram. Quase sempre ela o observa quando ele está compenetrado em algum livro. Fernanda até pensar em falar com ele, no entanto sempre deixa para depois e esse depois nunca acontece. 

José também a observa quando está em algum momento sozinha, na cantina tomando seu suco de melancia e lendo Platão. Pensa que deve ser um dos autores preferidos dela. José imagina como ela deve ser diante da vida, quais seus sonhos, conquistas. Toda vez que ele passa por algum corredor e ela está presente, faz que algum livro caírem e os junta vagarosamente só para ouvir novamente o som da  sua voz calma, tranquila. Ele comenta para alguns amigos que está começando a se apaixonar por ela.

Por uma coincidência da vida, soube de alguns workshops que aconteceriam na faculdade e iria integrar cursos de diferentes áreas, essa realmente era a chance que ele tinha para conhecer ela. No dia dos workshops ele a avistou com algumas amigas do curso de filosofia, parecia interessada e marcava tudo em alguma agenda. Depois alguns amigos marcaram para sair, conversar. Amigos de cursos diferentes se juntaram e Fernanda estava entre eles. José estava dando pulos de alegria, só precisava sentar do lado dela e puxar conversa, o resto aconteceria naturalmente. 

E assim aconteceu, os dois finalmente se encontraram naquele dia de lua e estrelas no céu. Uma conjunção a favor do sentimento que eles guardavam um pelo outro, a voz doce dela falando de seus interesses, seu perfume suave que invadia todo ser dele.  Depois de algumas taças de vinho e muita massa saíram pela noite gelada.  As estrelas compactuavam formando desenhos,  tocava uma música ao fundo vindo de algum lugar, ele a convidou para dançar no meio da rua. Fernanda aceitou no meio de um sorriso soube que aquele José é o que ela imaginou durante muito tempo de encontros de olhares furtivos e meios sorrisos pelas avenidas daquela mesma cidade. Ela agradeceu por ele estar ali, do seu lado.

Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.