Depois daquela troca de olhares no metrô Olga e Carlos não
conseguiram mais esquecer um do outro. Carlos imaginava o que Olga fazia e o
que gostava, quais seriam seus sonhos, suas dúvidas. Sua cabeça estava cheia de
perguntas que se um dia tivesse chance de reencontrá-la novamente seria
bombardeada por elas. Já Olga não parava de pensar porque motivo aquele homem
provocou tanta perturbação nela. O tempo estava passando depressa demais e os
dois não tinham nenhuma notícia um do outro. Ela passou algumas madrugadas na
frente do computador pesquisando pessoas nas redes sociais, no entanto seria
quase impossível encontra-lo já que não sabia nem o nome dele.
Uma manhã de quarta – feira como outra qualquer ela saí cedo
para o trabalho, e estava na plataforma reservada para cadeirante esperando o
metrô com seus fones de ouvido ouvindo uma música qualquer. Carlos a avista e
corre para alcançá-la, quando chega perto oferece ajuda, ela aceita, só que
Olga ainda não visualizou o rosto de Carlos. Quando ela estaciona a cadeira de
rodas no seu lugar reservado, coloca o cinto e vê o rosto dele seu coração
dispara de tanta emoção. Ela agradece pela ajuda e os dois começam a conversar
sobre as coisas corriqueiras do dia: tempo, seus nomes, onde trabalham e onde
moram. Trocam números de telefones, assim não podem se perder mais um do outro.
Foi sorte grande os dois estarem ali, lado a lado, naquela cidade grande, cheia
de gente, de vidas, de caminhos.
O dia passa e eles começam a trocar mensagens na hora de
folga dos mesmos. Marcam um encontro a noite em um restaurante com
acessibilidade é claro, já que Olga é cadeirante e Carlos é um homem muito
sensível. Ele vai pegá-la depois o trabalho, tem alguma dificuldade em
desmontar a cadeira e colocar no táxi, ela lhe dá as instruções e tudo acaba
bem. Eles tomam vinho e comem massa e conversam e conversam.... Todos os assuntos possíveis entram naquela
mesa, Carlos fala do seu sonho de uma casa com janelas grandes e flores
amarelas nos jardins. Olga fala de sua pós-graduação e que não teve muitos
relacionamentos, sua vida foi mais focada nos estudos. Depois de duas horas de
muita conversa eles saem do restaurante, ele se oferece para empurrar sua
cadeira, ela aceita com um sorriso no olhar.
Os dois resolvem
andar um pouco pela noite, as luzes da cidade ainda acessas, bares,
restaurantes, pessoas bebendo, sorrindo, gesticulando e os dois caminhando como
uma sombra em uma noite de luar. Eles param em um parque, cheio de gente,
crianças andando de skate, bicicletas por todos os lados. Carlos senta em um
banco empoeirado e mal conservado para ficar da altura de Olga. Ele não para de
olhar para aqueles olhos cor de mel, que nunca esquecera. Suas mãos tremem, ele
alcança seu rosto e olha bem no fundo dos seus olhos, a meia luz do parque
ajuda, ela fecha os olhos e se entrega - eles se beijam.
Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.
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