Carlos trabalha em
alguma empresa importante de uma grande cidade, mora em um pequeno apartamento,
está economizando para adquirir uma casa com janelas grandes e um jardim com
rosas amarelas. Gostava de olhar as revistas e separar ambientes que um dia ele
poderá decorar com suas próprias mãos. Sonhava em encontrar alguém para dividir
todo esse sonho enrustido dentro dele.
Olga é do tipo independente, mesmo se locomovendo com a sua
cadeira de rodas, também mora em uma grande cidade movimentada, sobe e desce
das calçadas, sabe o valor de se locomover sozinha. A cidade grande a oferecia
tudo isso. Trabalha em uma grande empresa de cosméticos, e vive em um pequeno
apartamento que divide o aluguel com mais duas amigas. Seus sonhos são tão
clichês que seria impossível descrever.
Sem saber os dois pegam o mesmo metrô todos os dias, ela
fica no seu lugar reservado, coloca o fone de ouvido e algum livro de
literatura para se distrair no trajeto de ida e volta. Ele quase sempre chega
atrasado e toma seu lugar de sempre, traz consigo alguma revista de
investidores ou economia para poder se atualizar.
Naquela sexta-feira de inverno, o dia parecia congelante,
ele senta em um lugar diferente dos outros dias, e nunca tinha reparado no
espaço priorizado para cadeirantes. De repente Olga chega tocando sua cadeira
de rodas estaciona no seu lugar, trava a cadeira e coloca o cinto de segurança
como de costume. Coloca seu fone de ouvido, no celular uma lista com suas
músicas preferidas. Quando a música Amazing
Day (Dia incrível) começa a tocar e seus olhares se cruzam e ficam fixados
um no outro. Ela esboça um meio sorriso tímido e ele o retribui. Seguem viagem
cada um ao seu destino sem trocar uma palavra, no entanto aquele olhar sincero
ficou perdido dentro do peito de cada um deles.
O dia segue como todos os outros e na volta Carlos tenta
encontra-la , mas ela não aparece, nesse dia,
sua amiga de apartamento lhe pega no trabalho. Por dentro ela lamenta
por não poder pegar o metrô e quem sabe encontrá-lo novamente. Distante um do
outro eles sentem que a timidez atrapalhou aquele encontro e talvez nunca mais
se reencontrem naquela cidade cheia de gente de todos os destinos e caminhos. E
apenas um olhar de alguns segundos já fez cada um pensar tanto no outro. Um
olhar, apenas um olhar.
Texto publicado originalmente no Jornal: A Novidade.
Eu sou de Florianópolis, e estou casada com Eduardo, meu amor a "primeira vista" há 16 anos, agora sou cadeirante, mais na época que conheci ele, eu era caminhante. http://euemdoismundos.blogspot.com.br/
ResponderExcluirQue bacana sua história! Vou olhar seu blog com certeza e volte sempre! Beijão e felicidades! ;)
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