Eu não sei se você me conhece, eu sou a malformação e vivo
em você pelo menos alguns anos. Recebi aquela carta há algumas semanas atrás e
fiquei comovida com tanta sinceridade. Posso dizer que você, cadeirante foi
leve, harmoniosa e ao mesmo tempo doce.
Alguns momentos na sua vida devo confessar que fui teimosa,
dura e ao mesmo tempo fiz você ter sentimentos não muito agradáveis por mim. Eu
te admiro, não só por ter passado por essa malformação com sabedoria e resiliência.
Você foi testada muitas vezes por mim. Caiu, e levantou-se facilmente como se
nada tivesse acontecido. Seu corpo está cheio de cicatrizes e marcas que eu a
deixei para que nunca esqueça dos tombos e arranhões que te fizeram crescer
muito, porém não de tamanho.
Alguns anos se passaram e hoje minhas marcas estão em uma
outra amplitude. Tenho certeza que lá no fundo da sua alma você tem algum
sentimento por mim. Você teve experiências incríveis, confesse! Cresceu de um
jeito um pouco maluquinha com seus romances água com açúcar. Fez tatuagens,
gosta de rock, é apaixonada por chocolate e teve alguns namorados legais, sei
de tudo isso e muito mais. Sei que odiava suas pernas, foi culpa minha por ter
sido tão agressiva com elas.
Sabe de uma coisa cadeirante, hoje você luta por você, faz
fisioterapia, musculação e se sente realizada. É bonito te ver lutando contra
mime todos os estragos que fiz na sua vida. Me sinto como se fosse sua velha amiga.
Depois de anos aparece, e o abraço continua o mesmo. Vou sentar, pois quero a
chá que você me prometeu na outra carta. Prazer, malformação na coluna.
Texto impresso originalmente no jornal: A Novidade.
Olá. Eu sou a consciência de um cara normal que nunca precisou pensar sobre isso. Obrigada por me mostrar mais uma peça deste quebra cabeça que sou eu.
ResponderExcluirImagina! rsrsrsrsr Agora fiquei curiosa pra saber quem será esse cara normal? :D Volte sempre que for preciso para se redescobrir mais! kkkkk ;)
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