sábado, 6 de dezembro de 2014

Mais de 1.500 dias com ela!


Nada mais justo de que uma homenagem. Para ela, é gente é ela sim, minha companheira de todas as seguidas e extravagantes horas. Às vezes tudo é tão automático, que não percebemos o quanto somos dependentes da cadeira de rodas. Parecemos alguma espécie de robôs com quatro rodas, não vivemos sem elas para nos locomover e de alguma forma, talvez até estranha ela faz parte do nosso corpo sem estar propriamente no corpo. Eu sei que é complicado explicar, mas cada cadeirante tem seu jeito peculiar de encarar a cadeira. Alguns com revolta, outros com aceitação, mas o importante mesmo é tentar ser o mais leve possível, a vida é tão curta para nos preocuparmos com apenas quatro rodas e duas pernas inertes. Claro, que vai ter os dias nostálgicos. Aquele momento que você fixa o olhar nas pernas de alguma pessoa e se lembra o quanto isso era libertador pra você. Quando podia, sair andando e correndo sem nenhuma preocupação, que cada seu movimento era tão automático, hoje tudo é tão diferente. Para tentar mover uma perna você precisa de um imenso esforço cerebral, seus pensamentos terão que estar induzidos para aquele movimento, até que, ufa! Consegui levantar a perna, isso quando você ainda tem algum movimento sobrando. Tem horas que você quer virar adolescente novamente e aquele ar de rebeldia, nostalgia. Você só queria sair do carro batendo a porta sem preocupação, porém sua realidade é outra e temos que também alimentar essa realidade com coisas positivas. Vontades ficam guardadas em algum lugar, esquecida e a vida, ah, a vida meu caro leitor, essa segue, sem pedir licença. Você tem que sempre se reinventar e a cadeira de rodas vai estar contigo, onde for. Bom, já se passaram mais de quatro anos que estou com ela, agora uma diferente, mas o sentido da palavra não se modifica. Foi com ela que passei muitos perrengues, passei, senti, amei e até me apaixonei. Subi escadas, desci rampas, até fui carregada com a cadeira e tudo dois lances de escada e na descida quase levei um tombo, com três pessoas me segurando. (risos) Reinventei a minha história de um jeito novo, e cada dia aprendo mais com ela, com as conquistas e mudanças que a vida tem me proporcionado. Mudanças físicas também acontecem diariamente, e o que as pernas não se movimentam, superam nos braços por levar 60 quilos por aí, nessas ruas que não nos ajudam. A cadeira me fez ter um sentido novo na vida, mesmo andando, as muletas não foram boas companheiras, eu sempre tinha o medo de cair, essas preocupações, quebrar uma perna. (Risos) E com a cadeira me deu um sentido novo, mesmo ainda tendo que ter ajuda das pessoas para alguns afazeres, mas com o tempo tudo vai se ajeitando. Como dizem por aí, sozinho a gente não vive, precisamos das outras pessoas para poder viver bem. A cadeira de rodas também se tornou quase uma pessoa, que me leva, que tem o espírito leve, breve e impulsional. Só quero que a minha vida seja impulsionada por ela e que seja bonita, doce, que tenha cheiro de chocolate derretido.  Os 1500 e poucos dias foram vivenciados de uma forma inexplicável, principalmente esse último ano, muitas coisas importantes acontecendo e que os próximos 1.500 dias sejam tão inesquecíveis quanto esses. 

Beijo grande! 

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