sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Aos Distraídos


Sabe aquela expressão que todo mundo conhece: “O amor se atraí pelos distraídos.” Então, esse é do tipo de amor que a gente não procura - ele nos encontra - reencontra e nos desmonta de várias e inimagináveis maneiras. Estamos sempre tão exaustos de amores cansados, sofridos e ás vezes até doentios. Não percebemos os que nos rodeiam. Aqueles que chegam de mansinho, sem fazer barulho, aqueles que se instalam no nosso lado e não pedem nada em troca, ficam no mesmo lugar em um silêncio danado. Ele, o amor pode aparecer onde menos esperamos. Temos que estar atentos, captar as mensagens que o mundo nos oferece. Destino – sorte talvez, uma pitada de embriaguez, quem sabe.

Acabou de mudar para uma casa nova, conseguiu lavar o carro e respira fundo: tudo em ordem. Então pensa em  brigadeiro de panela para comer todinho na frente da TV? Você olha na dispensa e pensa: cadê o chocolate em pó?  Você sai rapidinho para ir ao mercado, aquele dia que sai pelo elevador com aquele jeans rasgado, camiseta branca de uma banda de rock preferida, tênis e rabo de cavalo, nem batom você passou, de cara limpa, lavada. Quando o elevador abre, a respiração fica mais pesada. O perfume invade o elevador de maneira suave. Um oi tímido e uma conversinha básica sobre o tempo. Quando você se despede, ele te acompanha ao mercado e na volta pede seu número. Quando chega a casa, esquece-se do brigadeiro e nem chocolate em pó você comprou. Onde anda com essa cabeça, menina?

Divorciada há dois anos, preocupada com a casa, trabalho, filhos e os netos que já estão crescendo. De repende surge uma oportunidade de uma viagem. Conhecer o Rio de Janeiro   foi o que sempre quis. Primeira vez na vida decide viajar sozinha, conhecer o Corcovado, a praia de Ipanema, o Cristo Redentor. E lá no Hotel, na beira da piscina, com seu maiô floral, lendo Graciliano Ramos, uma sombra invade seu corpo e a voz vai logo dizendo. Conheço você  de algum lugar. Conversa vai, conversa vem, descobre-se que estudaram o ginásio inteiro junto. Nem preciso escrever mais nada.

O amor se faz de momentos, sem data marcada, sem preparação. Medo; angustia; sofrimento. Quando o amor é saudável, nenhum desses sentimentos faz parte. Amor vem pra somar, dividir, alegrar e repartir. Amor se faz, se reconhece nos ínfimos momentos distantes que nós, onde nunca nos imaginamos. O amor se encontra onde menos se espera. O amor se atraí pelos distraídos.

Texto impresso originalmente  no Jornal: A Novidade em 05/02/2016

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