Natasha saiu daquele bar com o coração leve e suas muletas pareciam flutuar pela noite estrelada. Ele foi embora e ela quis caminhar sozinha até sua casa, mesmo com um pouco de dificuldade seria bom sentir o ar da noite, o frescor daquele dia que começou não como ela imaginava e terminou com uma surpresa. Lembrou-se de todos os sons e cheiros que aquele bar transmitiu apenas em uma noite amena do mês de abril. Seguiu até sua casa com um sorriso discreto nos lábios e uma ponta de esperança que tudo poderia mudar depois daquele dia.
Em casa, colocou a bolsa sobre a mesa da cozinha e foi
direto para o quarto, se jogou na cama, cansada, exausta pelo dia, porém feliz
por ter conhecido o homem dos olhos cinzentos cujo nome não lembra direito.
Tiago, Daniel? Pensou. Adormeceu ali mesmo sozinha, no seu pequeno apartamento
de quarto e cozinha.
O despertador soou as 06h30min da manhã, ela abre os olhos e
checa o celular, algumas mensagens, só que não tem tempo agora. Levanta, toma
banho, se apronta e sai pelo ar da manhã para o trabalho, as pessoas passam por
Natasha e a mesma quase nem percebe de tão automático que se dia começa. Ela sorri
como nunca sorriu antes e as pessoas que passam por Natasha retribui o sorriso, como se transmitisse uma
luz interior. Enfim chega ao trabalho
mais sorridente do que nos outros dias.
Natasha trabalha em uma loja de roupas retro, um brechó,
gosta do que faz e se sente realizada por ter encontrado aquele lugar que lhe
faz bem. Sua vida é a mais básica possível, sai às vezes com algumas amigas
para beber e sua maior distração é ler.
Escreve algumas poesias, porém tem dificuldade de mostrar para alguém. Na
verdade a vida de Natasha é um livro com um cadeado, quase ninguém sabe onde
mora se tem parentes, ou o que gosta de fazer nos dias frios de outono quando
as folhas das árvores já começaram a cair.
O trabalho corre como de costume, um cliente a procurou,
pois queria uma boina, outra uma fantasia legal, e o carnaval já acabará faz
tempo. Outro pediu uma calça azul escura e por fim uma mulher queria encontrar um vestido legal e barato,
pois seria madrinha de um casamento da alta sociedade.
Na volta para casa Natasha passou pelo bar e ficou olhando
pelo vidro, as mesas se enchendo novamente e rezou com uma força descomunal
para que seus olhos o encontrassem novamente. De repente se sentiu solitária
naquele lugar, às vezes sentia como se fosse sua segunda morada, mesmo não
conhecendo as pessoas daquele bar, era a sua casa. Ela baixa a cabeça e
olha para suas botas pretas, sujas e gastas, então uma mão toca seu ombro e
sente um cheiro familiar.
Vira-se para olhar para o dono do toque em seu ombro e suas
pernas sofrem um espasmo ao ver aqueles olhos cinzentos penetrantes. Ela se
segura nele para não cair. Daniel lhe pergunta se sente bem. Novamente encontra
aquele olhar que não saiu da cabeça a
noite inteira e responde que sim. Os dois saem andando e ao
mesmo tempo a cor quente do sol que se despede daquele dia que foi o mais longo
de sua vida. Ele anda devagar para lhe acompanhar. Até que em uma praça avistam
um banco e sentam-se: conversam e conversam.
Em um gesto distraído suas mãos se tocam e ela sente o choque da pele
dele contra a sua, fecha os olhos e aproveita o momento que se eterniza na sua
alma de menina estranhamente romântica debaixo das vestes de Natasha.
Texto publicado originalmente no Jornal: A novidade
Gostei muito. Me vi um pouco na personagem. Lembrei de que trocando os gêneros já vivi algo assim...
ResponderExcluirÉ bom saber que escrevo momentos possíveis, volte sempre que puder. Abraço forte! ;)
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